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Meio ambiente: Incineração é eficiente para resíduos perigosos

Incineração é opção mais eficiente para lidar com resíduos perigosos, mas custos favorecem opção por aterros classe 1

Entre as soluções para destinar resíduos perigosos, a incineração pode ser considerada a de mais alta eficiência.

Por uma razão simples: o processo térmico tem capacidade de destruição de 99,99%, apresentando como residual depois da incineração apenas cinza inerte facilmente descartável em aterros.

Essa característica do processo faz a sua utilização ser ideal para resíduos com risco elevado e com potencial de persistência na natureza, como são os casos dos organoclorados, presentes em várias formas, não apenas de forma direta como resíduos sólidos industriais ou efluentes líquidos, mas também em solos contaminados, embalagens de produtos, equipamentos de proteção individual (EPIs), em plásticos, tecidos ou vidros.

Pode ser considerado, porém, um obstáculo para a maior penetração da tecnologia o seu alto custo, natural para um processo de altas temperaturas, que demanda consumo elevado de energia e o controle de emissões, que encarece também o investimento nos fornos, e a manutenção atenta e muitas vezes cara, para evitar transtornos na operação.

Como alternativas mais competitivas em preços a muitas das demandas que poderiam ser atendidas pelos incineradores estão o coprocessamento em fornos de cimento e os próprios aterros classe 1, que são preparados para resíduos perigosos.

No primeiro caso, porém, há a vantagem para a incineração de poder receber resíduos com cloro, o que não pode ocorrer nos fornos de clínquer, cujos revestimentos cerâmicos são sensíveis ao elemento químico.

Mas, quando é possível, os geradores sempre vão preferir o coprocessamento, ainda bem mais barato do que a incineração e que atende a uma variedade muito grande de blends de resíduos, por meio de oferta já muito bem consolidada no Brasil.

No caso dos aterros classe 1, a concorrência, além de ser ainda mais desvantajosa para a incineração em termos de preço, tem apenas alguns limitantes.

São poucos os tipos de resíduos que os aterros devidamente preparados não podem receber, incluindo aí resíduos hospitalares, embalagens de defensivos agrícolas e o ascarel, a bifenila policlorada (PCB), o óleo isolante de transformadores de eletricidade que foi banido há muitos anos e cujo enorme passivo no Brasil precisa ser destruído por força de lei.

Segundo o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes (Abetre), Luiz Gonzaga Alves Pereira, embora os geradores tenham muito cuidado com os resíduos perigosos, a grande parte deles segue para aterros com células especificamente revestidas para receber os classificados como classe 1.

E a razão principal não é outra se não o custo.

Segundo ele, embora cada empresa cobre o seu preço, na média, os aterros classe 1 cobram R$ 140 por tonelada recebida, contra a média de R$ 2 mil/t da incineração.

“E ultimamente há casos até de superar esses R$ 2 mil”, completa Gonzaga.

De acordo com o dirigente, os casos em que os incineradores ainda têm praticamente uma reserva de mercado são, para começar, a destruição de embalagens de defensivos agrícolas.

Trata-se inclusive de caso de sucesso em política ambiental de logística reversa feita pelo setor agrícola, que se organizou por meio de vários fabricantes de defensivos e entidades do setor para criar um sistema nacional de coleta e tratamento das embalagens.

Dessa forma, cerca de cem empresas associadas criaram o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias, o Inpev, que por sua vez organizou em 2002 o Sistema Campo Limpo, ramificado por todo o País em 99 centrais que recebem as embalagens usadas de defensivos para posterior recuperação de suas matérias-primas, quando possível, ou para a destruição em incineradores, quando contaminadas de forma irreversível.

Segundo levantamento do Inpev, cerca de 95% do material recebido pelo sistema retorna ao ciclo produtivo como matéria-prima de outros produtos. Isso ocorre com embalagens plásticas corretamente lavadas após a utilização no campo, as de papelão e as metálicas.

Já as embalagens não-laváveis (cerca de 5% do total comercializado) e as não devidamente lavadas pelos agricultores são encaminhadas para os incineradores credenciados.

Em 2021, último dado disponível, foram queimadas 4,2 mil toneladas de embalagens por quatro incineradores.

Ao contrário do caso das embalagens do setor agrícola, a incineração das bifenilas policloradas (PCBs), alternativa para esse poluente orgânico persistente banido do mercado, mas ainda presente em muitos transformadores e equipamentos estocados pelo país, não tem caminhado da forma como deveria.

Segundo o presidente da Abetre, as empresas com incineradores habilitados para a prática têm percebido queda acentuada na demanda. Isso fez, em julho deste ano, um deles ser descontinuado, o da Orizon Valorização de Resíduos, em Belford Roxo-RJ, incinerador tradicional desenvolvido pela Bayer no passado.

Segundo a Orizon, a planta de incineração de resíduos de Belford Roxo não recebe materiais para queima desde 15 de julho. “A decisão de fechamento está ligada à diminuição de recebimento de materiais pelo proprietário do complexo onde o incinerador está inserido”, respondeu a empresa em nota.

Com a saída da Orizon, agora apenas a Cetrel, em Camaçari-BA, e a Ecovital, de Sarzedo-MG, têm permissão para tratar ascarel em seus incineradores

Para Gonzaga, da Abetre, a situação é ainda mais agravada porque o incinerador da Ecovital não pode receber resíduos perigosos de outros estados, por conta de lei estadual que proíbe a entrada de alguns passivos ambientais, limitando a operação com ascarel de companhias estabelecidas em Minas Gerais.

“Como associação, estamos tentando reverter isso com o governo mineiro e o Ministério do Meio Ambiente”, diz.

Além disso, na sua avaliação, o fato de o incinerador de Belford Roxo ter sido descontinuado demonstra falta de fiscalização para que os donos de passivos de PCB deixem de estocá-lo e deem a eles uma destinação adequada.

“É uma situação desconfortável, porque há a material para entrar dentro do incinerador, mas o gerador acaba não o levando, fica guardando, dando um jeitinho”, afirma.

A expectativa, porém, é que essa situação melhore um pouco. Isso porque o Ministério do Meio Ambiente está fazendo um inventário do PCB no País, para saber qual é o passivo ambiental desse poluente carcinogênico.

Além disso, em novembro de 2021, foi sancionada a lei 14.250, que dispõe sobre a eliminação controlada de materiais, fluidos, transformadores, capacitores e demais equipamentos elétricos contaminados por PCBs e por seus resíduos.

Segundo esta lei, os detentores de PCBs ou de seus resíduos deverão elaborar, manter disponível e enviar ao órgão ambiental competente o inventário de PCBs em até três anos após a data de sua publicação, ou seja, em 2024.

A lei atende à promulgação pelo Brasil da Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs), compromisso firmado pelo Decreto 5.472, de 20 de junho de 2005.

Ao se tornar signatário, o país se comprometeu a desenvolver ações para reduzir e eliminar as liberações decorrentes de produção e uso intencionais e não intencionais dos POPs, entre eles o ascarel.

Por sua vez, o inventário nacional, além de consolidar os dados de volumes de PCBs existentes no país, pretende ser a base para acompanhar a sua destinação final.

Segundo o MMA, ele é composto de declarações das empresas com equipamentos e estoques, que devem contemplar informações sobre as destinações já realizadas e a realizar, incluindo as quantidades identificadas, respectivas datas e destinações finais.

A ideia é que os equipamentos elétricos com concentrações superiores a 50 mg/kg e outros resíduos PCBs sejam quantificados e reportados por meio do sistema.

A criação do inventário tem a ver com a adesão do País à iniciativa do PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento para eliminação completa do ascarel. Isso deu origem à instituição pelo MMA do projeto “Destruição Ambientalmente Adequada de PCB no Brasil”, que contou com a participação de empresas do setor, como a Cetrel e a Ecovital, e que foi concluído em setembro.

Oferta – Não há muitos incineradores no Brasil. Estado mais industrializado, São Paulo concentra mais equipamentos, que atenderam primeiramente demandas específicas de indústrias de maior porte, como o incinerador em Taboão da Serra-SP, hoje da Essencis, e que foi adquirido da Rhodia, que o utilizou para incinerar resíduos clorados que foram descartados ilegalmente na Baixada Santista entre as décadas de 70 e 90 pela Clorogil (empresa adquirida mundialmente pela Rhodia, que herdou o passivo oculto).

O equipamento tem capacidade para destruir por volta de 7 mil t/ano de resíduos.

Segundo a Cetesb, há no momento seis incineradores no estado: da Antibióticos do Brasil, em Cosmópolis, voltado para produtos farmoquímicos; da Basf, em Guaratinguetá, para defensivos agrícolas; da Silcon Ambiental, para resíduos perigosos de qualquer estado físico; da PCN Suzano, em Suzano, para resíduos perigosos; da Pioneira, também em Suzano, para resíduos de serviços de saúde; e, por fim, o da Essencis, em Taboão da Serra.

Apesar da disponibilidade em São Paulo, o considerado principal incinerador do País é o da Ecovital, em Sarzedo-MG, o mais novo, moderno e com maior capacidade de atendimento do País. De propriedade da empresa Vital Engenharia Ambiental, o incinerador foi inaugurado em março de 2014, mediante investimentos da ordem de R$ 60 milhões.

Segundo o diretor da Ecovital, Paulo Márcio Simões, o investimento exigiu três anos de pesquisa e desenvolvimento e teve montagem nacionalizada a partir de fornecedores de componentes de vários países, principalmente da Alemanha, Estados Unidos e Suíça. Conforme explica, o sistema tem características singulares e alta capacidade de processamento, com um sistema de alimentação de resíduos em tripla via (a granel, acondicionados e resíduos líquidos).

Com capacidade de incineração de 5,5 toneladas por hora, de acordo com Simões, trata-se do maior sistema da América Latina.

O equipamento chega a 1.200ºC, é alimentado por gás natural comprimido (GNC) e tem eficiência de destruição de 99,99%. Gera de 3% a 7% de cinzas em relação à entrada de resíduos no forno.

Nesse caso, as cinzas são destinadas para aterros classe 1 e/ou classe 2, a depender da análise química de caracterização das cinzas.

Ainda de acordo com Simões, a demanda principal está em resíduos das indústrias agroquímicas, farmacêutica e cosmética, química e petroquímica.

Ele atende principalmente resíduos com as bifenilas policloradas (ascarel); borras de tintas; borras oleosas; carvão contaminado; cosméticos e seus componentes; efluentes líquidos industriais; embalagens contaminadas; EPIs contaminados; medicamentos e seus componentes; reagentes de laboratórios; resíduos organoclorados; resíduos organofosforados; solos contaminados; solventes; e vários materiais contaminados (plásticos, tecidos, madeiras, papel, papelão, plásticos e vidros).

Entre as restrições de recebimento, continua o diretor, figuram apenas aos resíduos radioativos, explosivos e gasosos.

Quanto ao ascarel, Simões confirma que o incinerador só pode receber de clientes do estado de Minas Gerais, por existir a deliberação normativa que restringe a entrada de alguns resíduos no estado.

“Todos os proibidos pela deliberação são passivos que não são mais gerados atualmente”, diz.

Trata-se da Deliberação Normativa Copam 211, de 16 de novembro de 2016, que regulamentou o art. 12 da Lei Estadual 13.796/2000, proibindo o armazenamento, o depósito, a guarda e o processamento de rejeitos e resíduos classificados como perigosos, gerados fora do estado e que sejam constituídos ou tenham como contaminante qualquer dos poluentes orgânicos persistentes (POPs) listados pela Convenção de Estocolmo, além dos classificados como altamente tóxicos de acordo com a NBR 10.004 da ABNT.

Apesar da deliberação, de acordo com Simões, a empresa tem conversado com o Ministério do Meio Ambiente, que tem interesse em solucionar o passivo do PCB, para tentar liberar a entrada de resíduos com ascarel de outros estados.

“Isso porque nós somos um dos dois equipamentos capazes de receber esse tipo de resíduo no Brasil e há uma demanda muito grande”, diz.

Na Bahia – O outro incinerador capaz de receber ascarel e vários outros resíduos perigosos é o da Cetrel, que funciona no polo petroquímico de Camaçari, na Bahia.

O parque de incineração funciona desde 1991, processando os mais variados resíduos perigosos incineráveis do polo, que reúne indústrias petroquímicas e químicas, automobilísticas, de metalurgia, celulose, de bebidas, e de outros estados brasileiros.

O parque de incineração da empresa consta de duas unidades: uma para incineração de resíduos líquidos, que opera desde agosto de 1991, e outra para incineração de resíduos sólidos, que funciona desde novembro de 1998. As capacidades de tratamento dos incineradores são de 10 mil t/ano para líquidos e de 5 mil t/ano para sólidos.

Em 2021, último dado disponível, a central incinerou 7.308 toneladas de resíduos, sendo 5.064 t de líquidos e 2.240 t de sólidos. De ascarel, foram 194 toneladas em 2021, número bem inferior a 2020, quando foram inativadas 345 toneladas.

Essa queda pode demonstrar a tendência de baixo interesse das empresas detentoras de passivos de PCB em destruir o contaminante, o que fez até a Orizon fechar sua unidade.

Apesar disso, vale ressaltar que, desde 1992, a Cetrel já incinerou mais de 9.600 t de ascarel, sendo a primeira empresa licenciada para tal no Brasil.

Embora o sistema na Cetrel já tenha 31 anos, no caso do voltado para líquidos, e 24 anos no de sólidos, o desempenho operacional tem 99,99% de eficiência mínima de remoção de PCOPs (principal composto orgânico perigoso) e, segundo a empresa, tem padrão internacional de qualidade.

O incinerador de resíduos líquidos perigosos, na avaliação da Cetrel, foi projetado para alcançar altos padrões de desempenho, com flexibilidade operacional que permite a incineração de uma ampla variedade de resíduos líquidos e gasosos, incluindo PCBs, BHC, pesticidas e outros resíduos perigosos.

O sistema consiste em forno rotativo seguido de uma câmara secundária de combustão e um sistema de controle da poluição do ar projetado para atender às exigências específicas desta aplicação. O projeto global da unidade de processo foi feito pela norte-americana Andersen 2000.

No caso do sistema para líquidos, os resíduos são bombeados da área de estocagem até o topo do forno e atomizados nos injetores de ar. Aí eles são queimados em condições predefinidas para garantir a eficiência de combustão.

O forno de fluxo descendente tem duas câmaras de combustão para garantir tempo de residência de mais de 4 segundos a 1.300°C. Como combustível, o gás natural tem por objetivo a manutenção da temperatura para a partida e parada da planta, bem como quando o poder calorífico dos resíduos é insuficiente.

Já no sistema de controle de poluição, os gases de combustão são enviados para um quencher de grafite, que faz com que a temperatura seja reduzida até 90°C, através de contato com uma corrente de ácido clorídrico a 18% em peso.

A absorção do HCl produzida na incineração de organoclorados é efetuada em uma torre de absorção em três estágios. Para monitoramento, a chaminé é equipada com analisadores contínuos (O2, CO, CO2 e NOX).

O incinerador de sólidos tem forno rotativo seguido de câmara secundária de combustão e é projetado para operar em modalidade livre de escória. A alimentação do incinerador ocorre após a mistura e pesagem dos resíduos.

O resíduo é alimentado na moega que promove o seu transporte para o forno. Já a câmara de alimentação tem duas válvulas para isolar o forno. Ao fim da queima, as cinzas geradas no processo são destinadas para aterro industrial dentro das instalações da Cetrel.

Para o tratamento de gases desse incinerador, há o vaso de resfriamento (quencher), um lavador Venturi, lavador de gases, separador ciclônico, hidrociclone e um eliminador de névoas e, do mesmo modo que o de líquidos, a chaminé é equipada com analisadores contínuos (O2, CO, CO2, SO2 e NOX).

Os principais resíduos processados no parque de incineração da Cetrel são, além dos PCBs, solos contaminados com pesticidas e organoclorados, lixo vermelho (organoclorados diversos), cloroanilinas, clorobenzenos, líquidos contendo organolépticos, solventes clorados e materiaiss fora de especificação obrigados por lei.

Fonte: https://www.quimica.com.br/meio-ambiente-incineracao-e-eficiente-para-residuos-perigosos/

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