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Cientistas apontam caminhos para incentivar participação de mulheres na ciência

Incentivar a participação de meninas desde jovens em competições científicas, divulgar os feitos de meninas e mulheres na ciência e construir políticas públicas que fomentem a participação delas.

Incentivar a participação de meninas desde jovens em competições científicas, divulgar os feitos de meninas e mulheres na ciência e construir políticas públicas que fomentem a participação delas na área foram algumas das alternativas apontadas para responder à pergunta “Como podemos contribuir para mais mulheres na ciência?”

A indagação foi tema do painel on-line promovido pelo Conselho Federal de Química (CFQ) e pelo Programa Nacional Olimpíadas de Química (OBQ), no dia 11 de fevereiro, em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. O evento também marcou o lançamento do Quimeninas, uma iniciativa da OBQ voltada para meninas  regularmente matriculadas no 9º ano do ensino fundamental e do 1º ano do ensino médio.

Na abertura do evento, a chefe da Assessoria de Comunicação Social do CFQ, Jordana Saldanha, destacou que o painel virtual buscou inspirar novas gerações e estimular a equidade de gênero na ciência. Com carreiras consolidadas na área, as palestrantes convidadas falaram dos desafios enfrentados no meio científico e debateram ações que promovam a equidade de gênero na ciência a partir de projetos coordenados por elas. A professora Nilce Viana Gramosa, coordenadora do Programa Olimpíadas Integradas de Química da Universidade Federal do Ceará (DQOI/UFC), foi a mediadora do debate.

Mulheres na Ciência

Quem abriu o painel foram as professoras Maria José de Filgueiras Gomes, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e Patrícia Teresa Souza da Luz, do Instituto Federal do Pará (IFPA) e vice-presidente do Conselho Regional de Química da 6ª Região (CRQ VI – Pará e Amapá), ambas coordenadoras do Projeto Quimeninas.

Ao recordar sua trajetória de desafios ainda na infância, quando manifestou o desejo de ser cientista sem ter referências e contando com o incentivo de suas professoras, Maria José destacou a importância das mulheres que atuam na ciência terem mais visibilidade para que sejam exemplo para as meninas.

Baixa representatividade

A professora apontou dados que mostram a baixa representatividade de mulheres na ciência. “As mulheres dominam nas fases iniciais das carreiras científicas, como os programas de pós-graduação, com 52%, mas tornam-se minoria, ou seja, 42% em cargos como professores universitários”, citou.

Ela também expôs que dos 904 cientistas premiados entre 1901 e 2018, apenas 51 foram mulheres, o que representa apenas 5,6%. Para a área da Química, do total de 181 premiados, apenas cinco são mulheres, o equivalente a 2,8%. Dados mundiais apresentados pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em 2020, apontam que 28,8% dos cientistas são mulheres.

Referências femininas

Para ela, entre outras iniciativas, essa visibilidade passa pela ocupação de cargos de liderança na área científica e demais espaços de poder. “A partir do momento que a gente tem mais mulheres assumindo esses cargos, essas meninas que estão iniciando, vendo esses exemplos, com certeza vão também sonhar um dia ser cientista, professora, seguir uma carreira que não é tão comum hoje na nossa sociedade” argumentou.

Segundo Maria José, as mulheres só conseguirão avançar ainda mais a partir de ações que estimulem e apoiem estudos sobre gênero visando aprofundar o conhecimento sobre esse tema e que incluam seminários e premiações de reconhecimento e atuação científica das mulheres. “Como diz a frase: ‘A mulher pode ser aquilo que ela quiser, inclusive, ela pode ser cientista’. Não é só uma profissão para meninos. Acho que todos nós temos a mesma competência, independentemente do gênero”, afirmou.

Visibilidade das mulheres cientistas

A professora Patrícia Teresa comentou sobre o baixo número de mulheres que receberam o Prêmio Nobel, em 122 anos, e fez uma indagação: “Será que é porque essas mulheres não têm capacidade de atuar nessas áreas ou porque elas estão invisibilizadas nos seus ambientes de trabalho, nas suas carreiras?”

Segundo ela, é necessário melhorar o espaço acadêmico da mulher para que ela possa ter mais visibilidade. E uma dessas maneiras, além de projetos científicos, são as olimpíadas de conhecimento, como Química, Física, Matemática, Astronomia e outras, estimulando o preparo das meninas nesses eventos.

Uma questão cultural e não temporal

A professora Giovanna Machado, do Centro de Tecnologia Estratégicas do Nordeste (Cetene) e coordenadora do Programa Futuras Cientistas, avalia que não se trata de uma questão de tempo – como costuma escutar de muitos colegas homens – para que haja equidade de gênero na ciência, mas uma questão cultural de falta de oportunidade para as mulheres.

“Nós precisamos, sim, de atitudes e de políticas públicas que possam mudar esta realidade”, analisa Giovanna. Ela revelou qual é o seu maior desafio nessa área: “É ser mulher, principalmente, permear em um meio tão masculino”. A professora também relatou casos de alunas que sofreram bullying dos colegas na banca de estudos do Futuras Cientistas pelo fato de serem meninas.

Meninas olímpicas

A professora Nara Martini Bigolin da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) contou como o Movimento Meninas Olímpicas do Brasil, que ela coordena, colocou várias alunas do ensino fundamental no mapa das olimpíadas brasileiras e a evolução das classificações femininas em apenas três anos – de 2019 a 2022. “Antigamente, elas se sentiam excluídas e absolutamente invisíveis e, hoje, ser menina olímpica é um orgulho nacional”, celebrou.

Nara observou que as meninas são eliminadas dos espaços de poder ainda no ensino fundamental por falta de preparo. E acredita que, para ser mulher na ciência, as estudantes precisam ser treinadas. De acordo com a professora, uma das maneiras de aperfeiçoar esse treinamento é nas olimpíadas de conhecimento.

“Para lá na frente ser uma mulher da ciência, da política ou da área empresarial, a gente precisa, lá na educação básica, ser treinada para isso. Nós não estamos perdendo a mulher no futuro, nós estamos perdendo meninas no presente, no fundamental II”, observa a professora.

Futuras Cientistas

A professora Maria da Conceição Ferreira Oliveira falou de como se deu a aplicação do plano de trabalho “O aroma das plantas”, do Programa Futuras Cientistas 2023, e do engajamento e resultados das participantes nessa etapa.

Equidade de gênero

E a professora Silvana Carvalho de Souza Calado encerrou o painel representando a Associação Brasileira de Química (ABQ) e o Conselho Regional de Química de Pernambuco (CRQ I). Ela também relatou os desafios que enfrentou no início da carreira na década de 1980.

“A dificuldade era basicamente de ser mulher, não de ter conhecimento. Eu não podia chegar perto das dornas de fermentação [na Usina de Açúcar] porque eu era mulher em ciclo menstrual e isso poderia inibir processos de levedura. Eu era a primeira mulher trabalhando numa usina e só podia ficar num laboratório, não podia ir para fabricação em virtude de ser ‘coisa de homem’.”

Além de incentivar o fortalecimento do ensino fundamental tanto nas escolas públicas quanto nas privadas, Silvana é entusiasta da divulgação de tudo o que as mulheres e meninas fazem na ciência para dar visibilidade ao potencial feminino. “A gente melhora o nosso trabalho mostrando o que podemos fazer além do que pensam que a gente pode fazer”, frisa.

A professora cita a iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) de comemorar o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência como um mecanismo de representatividade feminina. E ressalta a importância de se criar mais premiações de mulheres até chegar o dia em que não será mais necessário segmentá-las para que as mulheres e meninas concorram na ciência em equidade de gênero.

“Eu vejo que se a gente tem divulgação, e se tem incentivo para chegar a esse patamar das mulheres na ciência numa paridade, é fundamental que possamos difundir isso, principalmente, na mídia”, sugere.

Clique aqui e confira o evento na íntegra.

Fonte: https://cfq.org.br/noticia/cientistas-apontam-caminhos-para-incentivar-participacao-de-mulheres-na-ciencia/

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