As teorias ácido-base completam 100 anos em 2023. Para chegar às três teorias mais aceitas até hoje, houve um longo percurso histórico. E foi isso que a professora doutora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Maria Helena Roxo Beltran traçou durante a palestra “História da Química: a construção das ideias sobre ácidos e bases ao longo do tempo”, durante a 46ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira da Química (SBQ), que segue até 31 de maio em Águas de Lindoia (SP).
Em seu discurso, Maria Helena retomou algumas ideias elaboradas para explicar características de materiais que, desde tempos distantes, foram classificados como ácidos ou alcalinos. Os ácidos e as bases são substâncias comuns usadas em laboratórios e estão envolvidas em importantes processos e em sínteses essenciais para a manutenção da vida, como o simples ato de cozinhar ou utilizar um produto de limpeza.
A professora fez um apanhado de registros de conhecimentos práticos datados ainda do século IX, abordando diferentes épocas e culturas. Segundo ela, esse resgate histórico é um ponto inicial para outros tipos de debates.
“Eu procuro trabalhar com a história da Química, com o que acontece no passado, para entendermos o mundo atual. Essa questão da identidade da Química é uma coisa muito séria que estamos enfrentando atualmente, com uma visão meio deturpada do que seja interdisciplinaridade, que é uma das minhas especialidades de estudo. Temos que olhar o passado, claro, mas a história da Química é apenas ponto de partida para reflexões e debates das condições atuais dessa Ciência”, disse.
A palestra abordou ácidos e álcalis desde a antiguidade até as origens da Ciência moderna. A partir de uma linha do tempo, a professora mostrou que a Química e a Medicina estão ligadas desde a antiguidade.
“Se pudéssemos falar da ancestralidade da Química, podemos dizer que ela está na Medicina, na Farmácia, em vários conhecimentos, porque havia outra forma de pensar a natureza, inclusive em épocas mais antigas. Então, atualmente, você tem essas especialidades e a Química está presente nelas, como na preparação de medicamentos, junto com a Farmácia”, explicou.
O trabalho da professora abordou, ainda, Lavoisier, considerado o “pai da Química moderna”, e a construção da identidade da Química até chegar ao século XX.
Grade curricular
Maria Helena comentou sobre como o Conselho Federal de Química (CFQ) pode contribuir para aprimorar a grade curricular nas escolas de educação básica e nas universidades. Para ela, é preciso repensar a interdisciplinaridade e o conteúdo que é passado em sala de aula.
“É preciso lutar pela preservação da especialidade, das disciplinas e da qualidade dos professores que atuam nessas áreas. Acontece muito de se fazer nas escolas uma aula interdisciplinar, juntando Química, Física e Biologia, como se a junção de três professores fosse oferecer uma coisa nova. E não é isso que acontece. Precisamos repensar e voltar a discutir a base curricular. Atualizações são bem-vindas, mas deve haver uma atualização bem fundamentada com especialistas”, opinou.
Sobre o ensino nas universidades, a professora mostrou-se contrária ao ensino na Química com uma carga reduzida de horário nas disciplinas práticas. “Ensinar Química sem laboratório é como ensinar alguém a andar de bicicleta por correspondência. A falta de laboratório e desse tipo de discussão epistemológica é o que está faltando na formação atual, inclusive na técnica”, concluiu.
SBQ
O tema da 46ª Reunião Anual da SBQ, “Química: Ligando ciências e neutralizando desigualdades”, propõe aos participantes várias reflexões sobre as desigualdades observadas, em diferentes níveis, de como as ciências e principalmente a Química podem contribuir para a sua mitigação. A escolha do tema foi pensada na celebração dos 100 anos das principais teorias ácido-base.
Fonte: https://cfq.org.br/noticia/46a-rasbq-palestra-faz-resgate-historico-da-quimica-e-explica-teorias-acido-base/
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