Como a Ciência é um instrumento essencial no combate desse tipo de problema, o tema foi discutido em um simpósio realizado na manhã de terça-feira (30), durante a programação da 46ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química (RASBQ).

Com o título “Química: ligando ciências e neutralizando as desigualdades”, o momento recebeu quatro minipalestras, sendo a primeira delas sobre a Ciência no Brasil e os desafios das desigualdades sociais, ministrada por Ildeu.

Ele citou pesquisa divulgada em março de 2022, realizada pelo Centro de Estudos SoU_Ciência, em parceria com o Instituto Ideia Big Data, indicando que a confiança dos brasileiros em cientistas cresceu na pandemia, com um percentual de 28,3%. Em 2019, esta mesma pergunta foi feita em outro estudo e o percentual foi de 11,8%.

“A Ciência brasileira cresceu nas últimas décadas e isso é mérito nosso, e ela tem um legado significativo na História do Brasil, além de continuar essencial para a evolução tecnológica. A Ciência básica é uma condição necessária e imprescindível para a redução da desigualdade, ainda que não seja suficiente. Nós precisamos ter uma articulação para melhorar nossa Ciência e adequá-la aos objetivos que temos como país, ou, se não existente, criarmos essas metas”, argumentou Ildeu.

Em seguida, a professora e doutora em Química Analítica, Tereza Oliveira discursou sobre o papel da Química na qualidade da água em aldeias Yanomamis e em outras comunidades ribeirinhas na Amazônia. Ela ainda contextualizou a melhoria na qualidade de vida com a redução na desigualdade social.

“Considero esse trabalho incentivador e motivador por causar um impacto gigante na vida dessas pessoas. A comunidade científica precisa fazer com que os projetos e as análises de laboratório atinjam o meio social e melhore a vida de todos, e assim nós minimizamos a desigualdade social e colaboramos para o futuro dessas pessoas”, refletiu Tereza.

A seguir Antônio Carlos Pavão, professor titular do Departamento de Química Fundamental da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), abordou a Ciência como necessidade cultural do povo. Ele fez diversas contextualizações sobre a História da Química no Brasil e explicou como isso fomentou o investimento no setor.

Foi nessa hora que ele lembrou fatos curiosos relacionando o Brasil e os químicos famosos, como uma visita que Marie Curie fez a Águas de Lindóia, município de São Paulo, em 1926, para investigar a radioatividade da água que ficou conhecida por suas populares propriedades curativas.

Ele também lembrou a participação do químico Roald Hoffmann, laureado com o Prêmio Nobel de Química em 1981, no desfile do carnaval da Sapucaí em 2004, no Rio de Janeiro, a convite da UFRJ.

Pavão ainda salientou que fomentos na Ciência resultam em redução na desigualdade social e que, para isso, precisamos fazer com que o conhecimento científico também seja divulgado, pois o contrário também acontece e isso prejudica o desenvolvimento da sociedade e, consequentemente, a diminuição da desigualdade social.

“Apesar de todo esse trabalho de divulgação científica, ainda tem gente que fala na teoria dos quatro elementos. Os resultados do Google ainda mostram diversas imagens erradas quando pesquisamos átomo. Com isso, identificamos um desafio no ensino. Se temos hoje um grande sucesso no futebol brasileiro porque jogam desde cedo, imagina se os jovens também fizessem Ciência na escola?”, indagou Pavão.

Finalizando o simpósio, o pesquisador químico Prof. Rochel Lago falou sobre projetos que estão sendo desenvolvidos para um Brasil sustentável e soberano, falando sobre o plano de ação da SBQ e o projeto Qui+s, também voltado para a união da Química com a sustentabilidade.

“Sobre o plano de ação, temos duas vertentes que podem contribuir para a diminuição da desigualdade social. Uma delas investe na qualidade do ensino público, e a outra no empreendedorismo. Entendendo que com o tempo isso resulta em uma redução da desigualdade”, concluiu Rochel.

SBQ

O tema da 46ª Reunião Anual da SBQ, “Química: Ligando ciências e neutralizando desigualdades”, propõe aos participantes várias reflexões sobre as desigualdades observadas, em diferentes níveis, de como as ciências e principalmente a Química podem contribuir para a sua mitigação. A escolha do tema foi pensada na celebração dos 100 anos das principais teorias ácido-base.

Fonte: https://cfq.org.br/noticia/46a-rasbq-comunidade-quimica-debate-meios-para-reducao-da-desigualdade-social-brasileira/