Países asiáticos deslocam indústria doméstica a partir de competitividade sustentada em matérias-primas russas adquiridas com preços menores em razão da guerra no leste europeu
As importações brasileiras de produtos químicos no primeiro semestre de 2023 totalizaram US$ 31,2 bilhões, valor bem superior à grande maioria dos outros iguais períodos das últimas décadas (oscilaram entre US$ 10 bi e US$ 25 bi). Especificamente nos seis primeiros meses do ano, foram identificados aumentos alarmantes nas quantidades físicas importadas de resinas termoplásticas (30,6%), de intermediários para detergentes (20,7%), de fibras sintéticas (17,3%) e de produtos petroquímicos básicos (9,7%), originárias sobretudo de países asiáticos com competitividade sustentada em matérias-primas russas adquiridas com preços favorecidos em razão da guerra no leste europeu, deslocando o produto nacional no próprio mercado doméstico e comprometendo as exportações para os mercados de destino das mercadorias brasileiras, o que agravou o nível de ociosidade nesses grupos de produtos estratégicos.
As exportações brasileiras de produtos químicos, por sua vez, somaram US$ 7,5 bilhões no semestre, queda de 14,9% em relação aos mesmos meses de 2022. Tal resultado se contextualiza no agravamento das dificuldades econômicas e cambiais da Argentina, individualmente principal mercado de destino dos produtos químicos brasileiros.
Em uma avaliação mensal, enquanto as importações ficaram em um patamar de US$ 5 bilhões, praticamente o dobro do valor mensal observado antes da pandemia da COVID19, as exportações recuaram para uma faixa mensal entre US$ 1 bilhão e US$ 1,2 bilhão.
O déficit acumulado da balança comercial de produtos químicos totalizou US$ 23,7 bilhões até junho, resultado superior a grande parte dos déficits anuais nos últimos 30 anos. Com relação aos últimos 12 meses (jul/22 a jun/23), esse indicador somou US$ 56,9 bilhões, sinalizando que o déficit em 2023 deverá permanecer acima da média histórica.
Para a Diretora de Economia e Estatística da Abiquim, Fátima Giovanna Coviello Ferreira, os resultados da balança comercial em produtos químicos no primeiro semestre indicam ser fundamental uma reflexão urgente sobre como mitigar a dependência externa e a vulnerabilidade em cadeias estratégicas e relacionadas à segurança alimentar, de saúde e garantir suprimentos a diversos setores industriais. “Precisamos pensar no futuro, em como crescer de forma sustentada, especialmente nos segmentos em que há vocação natural e vantagens comparativas, além do enorme mercado, mas é emergencial uma política comercial de combate aos surtos de importações originárias de países asiáticos que deslocam a indústria doméstica a partir de competitividade sustentada em matérias-primas russas adquiridas com preços favorecidos em razão da guerra no leste europeu”, destaca Fátima Giovanna.
Fonte: https://abiquim.org.br/comunicacao/noticia/10862
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