Vendas abrem caminho para ampliar a produção nacional.
A mudança relativa nos hábitos alimentares de parte da população, motivada pela pandemia, com a consequente alavancagem da panificação e do consumo de aditivos, estampou ainda mais o gap entre a demanda e a oferta na produção brasileira de ácido fosfórico e fosfatos, insumos utilizados em variadas aplicações, incluindo os fertilizantes que sustentam o agronegócio nacional.
Por “razões estratégicas”, importantes players globais com fábricas no Brasil, como a Mosaic, ICL Americas e Yara, não revelam integralmente seus indicadores, embora as duas primeiras dominem todas as etapas da cadeia produtiva de fosfatos, desde a lavra de rochas fosfáticas até a produção dos diversos itens que compõem seus respectivos portfólios de intermediários e produtos finais.
Contudo, dados do Sinproquim (Sindicato das Indústrias de Produtos Químicos para Fins Industriais e da Petroquímica no Estado de São Paulo) dão conta de que o Brasil depende em cerca de 60% das importações de fosfatos destinados a fertilizantes, por exemplo.
Esta conjuntura se deve tanto a gargalos tecnológicos na cadeia, como a falta de novos empreendimentos envolvendo a extração, purificação e transformação do fósforo.
Nélson Pereira dos Reis, presidente do Sinproquim, observa que, afora projetos mais recentes, a inauguração do último complexo importante nessa área ocorreu, no Brasil, há quase 20 anos, apesar de o mercado consumidor apresentar um crescimento anual da ordem de 5%, segundo estimativas atuais do Sinproquim.
O presidente do Sinproquim acrescenta que, ao longo dos anos, todas as empresas fizeram expansões, “mas aquém do que o mercado necessita”.
Por conta dessa defasagem, os fabricantes locais de fosfatos aplicados em vários segmentos da indústria “não têm capacidade produtiva suficiente para suprir a demanda, atendendo 65% do mercado brasileiro, que, em 2020, chegou a 87 mil toneladas.
Os outros 35%, ou 30 mil t, foram importados da China (90%), Europa (5%) e Tailândia (5%). Em relação ao ácido fosfórico purificado, o produto “made in Brasil” corresponde a 70% da demanda, sendo os demais 30% supridos por importados”, segundo Ricardo Neves Oliveira, diretor técnico de projetos da Galvani Fosnor – Fosfatados do Norte-Nordeste.
Hoje, a Galvani só atua no mercado de fertilizantes, informa Oliveira, acrescentando que o Brasil importa 72% do fertilizante fosfatado consumido, num mercado que crescerá, em média, 2,2% ao ano nos próximos dez anos (segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos – Anda).
Desde a concepção do processo e implantação para o aproveitamento do minério de Cajati-SP pelo professor Paulo Abib – uma antiga referência em Engenharia de Minas da Poli-USP – a indústria de fosfato brasileira tem um histórico de inovação e de desenvolvimento baseado nas melhores práticas industriais, diz Elves Matiolo, doutor em engenharia de minas e pesquisador do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação.
O know-how desenvolvido na época se transformou em uma espécie de benchmarking, reproduzido em outras plantas industriais instaladas em Araxá-MG, Tapira-MG e Catalão-GO.
Mas, na sua opinião, a performance metalúrgica de algumas delas carece de inovação, buscando, por exemplo, otimizar a recuperação do material de valor, pois, no geral, as unidades de mineração no Brasil recuperam de 50% a 70% do fosfato lavrado.
Diante desse cenário, qualquer incremento de 1% resulta em um ganho enorme em termos de produtividade e sustentabilidade, pois, além de potencializar o uso de recursos naturais, reduz o consumo de água e proporciona menos geração de rejeitos, um passivo ambiental de grande preocupação para o setor, segundo o pesquisador.
Outro desafio é compensar as desvantagens competitivas do Brasil, relativas ao acesso a matérias-primas, quando comparadas às reservas de fosfatos do Marrocos, pontua Pedro Igor Veillard Farias, doutor em química e pesquisador do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Ao se referir à produção brasileira de fertilizantes fosfatados, com fosfatos considerados pobres em teor de P2O5, ele recomenda rotas tecnológicas e fontes alternativas capazes de elevar a eficiência agronômica dos produtos.
Segundo ele, “com a intensificação tecnológica, os fosfatos secundários oriundos das operações unitárias de beneficiamento da rocha fosfática podem dar origem a uma nova indústria de fosfatados”.
No contexto de uma economia circular, o País precisa explorar também o potencial dos fertilizantes organominerais, à base de resíduos urbanos e industriais, destaca José Carlos Polidoro, doutor em agronomia e pesquisador da Embrapa.
Por sua vez, os rejeitos de culturas vegetais e animais (por exemplo, cama de frango) também podem ser convertidos em insumos agrícolas fosfatados por meio de tecnologias de polímeros.
Além de mais adequada às culturas tropicais, essa solução permite otimizar a solubilidade do fosfato (junto a outros macronutrientes e micronutrientes), reduzindo as perdas.
Quando aplicados no solo, esses fertilizantes podem ter sua eficiência melhorada por meio da atuação de micro-organismos, segundo ele.
Fonte:
Conselho Regional de Química 2ª Região
Minas Gerais
Rua São Paulo, 409 - 16º Andar - Centro, Belo Horizonte - MG - 30170-902
(31) 3279-9800 / (31) 3279-9801