Startup fundada em 2012 recicla o que poucos conseguem reciclar e tem acesso único a rede de cooperativas de catadores.
Startup fundada em 2012 recicla o que poucos conseguem reciclar e tem acesso único a rede de cooperativas de catadores - que ganham mais na equação
A Ambipar anunciou hoje a aquisição do controle da Boomera, startup de impacto referência em economia circular, num movimento amplia seu portfólio de gestão ambiental para resíduos pós-consumo e dá acesso a parcerias com cooperativas de catadores em todo o Brasil.
Fundada em 2012 por Guilherme Brammer, um engenheiro de materiais com passagens pelas indústrias de aço, papel e plástico - e que seguirá no comando da empresa - , a Boomera nasceu como uma consultoria de pesquisa e desenvolvimento voltada principalmente para o reaproveitamento de resíduos de difícil reciclagem em grandes empresas.
Mas, ao longo do tempo, foi verticalizando a atividade para dar conta de toda a cadeia de economia circular dessas companhias, desde a logística reversa até a fabricação dos produtos reciclados a partir dos resíduos, especialmente os plásticos.
Hoje, 80% da receita da Boomera vem da venda de produtos acabados e outros 20% de serviços, como consultoria para empresas e logística reversa.
O grosso vem de duas fábricas.
Uma delas é a joint venture com a LAR Plásticos, em Atibaia, no interior de São Paulo, que produz resinas recicladas a partir de plástico pós-consumo - uma demanda cada vez maior de empresas de higiene e cuidados pessoais, que vêm impondo metas para a utilização de plástico reciclados nas suas embalagens.
Nesse mercado, a Boomera é a fabricante exclusiva de resinas pós-consumo para a Dow e presta serviços para outras petroquímicas, como a Braskem e Basf.
Numa outra unidade, no Paraná, a companhia produz filmes plásticos reciclados a partir de plásticos flexíveis (aqueles que vão na embalagem de biscoito ou da sopa de pacotinho e costumam passar batido no processo tradicional de reciclagem).
A proposta é sempre transformar os resíduos em produtos com vida útil mais longa.
Um de seus principais produtos finais são lonas agrícolas, voltadas para a proteção de plantações em fazenda, que duram, em média, cinco anos, enquanto o produto tradicional, produzido a partir de resina 100% virgem, costuma durar apenas um mês.
A mesma tecnologia está sendo usada, por exemplo, num projeto com a Ambev, com uma lona flexível criada para substituir os plásticos de uso único que embalam os packs de bebidas que saem dos centros de distribuição.
Ganha-ganha
Além da capacidade de processar resíduos que antes passavam batido na reciclagem, a Boomera tem como principal ativo sua relação com mais de 500 cooperativas de catadores de materiais em todo o Brasil.
O acesso da Boomera a essa cadeia é complementar à oferta de gestão ambiental e serviços de economia circular da Ambipar.
Inicialmente mais focada na gestão ambiental de indústrias mais pesadas, como cimenteiras e papel e celulose, a companhia vem, desde o IPO em meados do ano passado, reforçando seu portfólio de clientes nos segmentos de bens de consumo, como bebidas e cosméticos - setores em que a gestão do lixo fora das fábricas é ainda mais relevante que dentro delas.
É por meio das parcerias com as cooperativas que a Boomera consegue fazer a logística reversa e ter acesso à matéria-prima que usa nos seus processos de fabricação de produtos reciclados.
Trata-se de um ganha-ganha.
Financiada com capital próprio desde a fundação, a Boomera vinha conversando há meses com fundos de investimento para uma captação que desse fôlego para expandir a operação.
Além de reforçar a área comercial, a ideia, apurou o Reset com investidores que participaram do processo, era levantar recursos para ampliar a capacidade das fábricas, além de expandi-las para outras regiões do país. Como não vale a pena transportar o lixo por longas distâncias, é preciso levar as fábricas para perto de onde há oferta de material reciclável.
Mas um dos fatores que fez a proposta da Ambipar sair na frente foi o "sourcing", dando acesso à Boomera ao lixo das operações industriais operadas pela companhia, que servem de matéria-prima para a produção dos produtos reciclados.
Segundo o fato relevante divulgado na manhã de hoje, o plano de expansão da Boomera para os os próximos meses prevê "a criação da oferta de crédito de logística reversa, a utilização de soluções de rastreabilidade ponto a ponto, agregando e compartilhando valor com cooperativas de catadores e materiais reciclados".
A venda de créditos de logística reversa é o que faz, por exemplo, a Eureciclo, com a diferença de que a Boomera fará ela própria a reciclagem do material que dará origem aos créditos.
Apesar de a Ambipar ter comprado 50,01% da companhia, a Boomera continuará operando como uma divisão separada e Brammer seguirá como CEO. Os valores da transação não foram divulgados.
Um negócio de impacto
Mais do que apenas ter as cooperativas como fornecedoras, a Boomera trabalha em parceria com elas.
"A primeira vez que eu estive em uma cooperativa, logo no começo da Boomera, fiquei muito impactado: não tinha equipamento de segurança, não tinha banheiro, e os caras lá trabalhando, prestando serviço ambiental, com um sorriso no rosto", disse Brammer em conversa com o Reset há pouco mais de um mês.
Com ferramentas de gestão, construídas em parceria com as cooperativas, além de criar uma oferta maior pelos produtos, a empresa consegue mais que dobrar a renda média dos cooperados parceiros.
A relação com as cooperativas rendeu a Brammer o prêmio de Empreendedor Social da Fundação Schwab no Fórum Econômico Mundial em 2020.
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Fonte:
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Minas Gerais
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