Institucional
Notícias

Técnicas para análises ambientais, forenses e de alimentos são destaque no 9º Congresso Analitica em SP

O segundo dia do 9º Congresso Analitica teve como destaque as tendências que o meio acadêmico tem pesquisado para análises químicas em diversas áreas, entre elas ambientais, alimentícia e forense. O Congresso ocorre simultaneamente à Analitica Latin America, principal evento da indústria química analítica da América Latina, que está em São Paulo entre os dias 26 e 28 de setembro.

Os professores Gisele Simone Lopes, da Universidade Federal do Ceará (UFC); Marco Tadeu Grassi, da Universidade Federal do Paraná (UFPR); e Ednei Gilberto Primel, da Universidade do Rio Grande (FURG), se dividiram para falar sobre “Novas estratégias para análises ambientais”.

Gisele falou sobre a técnica de geração termoquímica de vapor para especiação e análise de mercúrio (Hg). Segundo a professora, “a geração termoquímica de vapor é uma alternativa promissora, mas os mecanismos ainda não estão totalmente elucidados”, ponderou. A metodologia foi utilizada para coletar amostras de mercúrio no derramamento de óleo no litoral brasileiro em 2019 e 2022, em especial no estado cearense.

Já o professor Grassi comentou sobre o uso de amostradores passivos do tipo DGT para determinar espécies metálicas em ambientes aquáticos. Ao chamar atenção para a importância da preservação das amostras, Grassi ressaltou a oportunidade com os esses amostradores: “pouca atenção tem sido dada aos processos de coleta e preservação da análise. Existe a possibilidade de interconversão de moléculas, que pode adulterar a amostra, de maneira que, ao chegar ao laboratório, não terá mais as mesmas características de quando foi coletada. Os amostradores passivos surgem como alternativa para minimizar a possibilidade de adulteração da amostra.”


Na opinião do professor da UFPR, os amostradores passivos possuem algumas vantagens, como a possibilidade de coleta e concentração in situ; o fornecimento de dados integrados temporalmente; a geração de informações com elevada resolução espacial e a minimização da possibilidade de adulteração da amostra. “São simples de fabricar e manusear, insensíveis a interferentes e têm baixo custo”, acrescentou.

Esse método foi utilizado para monitoramento ambiental no Círculo Polar Ártico, com apoio da comunidade local, já que é um lugar de difícil acesso. “Lá possui muita atividade de mineração, então a população foi treinada para auxiliar a identificar metais nos rios e, consequentemente, se interessar pelas atividades locais”, disse Grassi. O método também foi utilizado após o rompimento da barragem em Mariana (MG), para identificar contaminantes na costa litorânea e em lugares mais afastados da foz do rio.

Ednei Gilberto Primel, professor na FURG, lembrou que tanto o profissional analista químico quanto o pesquisador devem, antes de entrar em um laboratório analítico, pensar na escolha do método. “Buscamos sempre a eficiência na extração da amostra e da análise. Em geral, buscamos análises simples, com baixo custo, material alternativo, com bom custo/benefício, mas que seja compatível com o laboratório para o estudo específico”, destacou.

Ele apresentou algumas técnicas analíticas utilizadas por seu grupo de pesquisa para análises ambientais, entre elas a extração em fase sólida (SPE, do inglês Solid-Phase Extraction), a qual “possui uma série de vantagens que outras não têm, mesmo que seja da década de 1940”, lembrou. Entre as vantagens estão: versatilidade, facilidade de automação, baixo volume de resíduos e de solventes orgânicos, além de vantagens logísticas.

Análises de alimentos
Na seção dedicada à análise de alimentos, os professores Juliano Smanioto Barin, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Cassiana Seimi Nomura, do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP); e Kelly Dantas, professora titular na Universidade Federal do Pará (UFPA), falaram sobre alguns métodos de análise que podem ser aplicados pelo setor.

Barin deu início à conversa citando a captura de imagem térmica na região do infravermelho (entalpimetria no infravermelho) como uma nova forma de realizar análise Química em alimentos. “O uso da termografia serve para diversas áreas. Essa técnica pode ser utilizada sem contato, não destrutiva, e por pontos de temperatura. Hoje, por exemplo, já se usa na parte de medicina para identificar o câncer de mama pela temperatura do tecido”, citou.

Reações químicas envolvem transferência de calor, por isso, segundo ele, a termografia pode ser usada para fins analíticos. Para além dos alimentos, Barin comentou que a técnica pode ser utilizada para detectar a presença de gases e até na quantificação das emoções, já que os sentimentos modificam a irrigação sanguínea na face humana, aquecendo alguns pontos.

Cassiana Nomura, da USP, abordou a aplicação de técnicas assistidas com laser em análises de alimentos e bebidas, com destaque a espectroscopia de ruptura induzida por laser (LIBS, do inglês Laser Induced Breakdown Spectroscopy). Nomura relembrou que a tendência do mercado tem sido no sentido de buscar técnicas inovadoras que pulem algumas etapas que são realizadas em métodos mais tradicionais, como o preparo da amostra com reagentes. No caso das técnicas trabalhadas pela pesquisadora, o laser exerce a função de coletar partículas da amostra e levar para o detector.


“Buscamos resultados de qualidade, mas não é tão simples, porque a amostra pode passar por diversos processos analíticos. Para garantir o resultado efetivo da amostra, a gente pula algumas etapas”, afirmou.

A pesquisadora comparou LIBS com LA-ICP (laser associado a espectrometria com plasma induzido), e identificou diversas vantagens nos métodos como a capacidade microanalítica, capacidade de identificação multielementar, baixo consumo de reagentes, baixa geração de resíduos, baixos riscos de contaminação e de perda do analito. No entanto, nos aspectos da portabilidade e do baixo custo para análise, a LIBS mostrou-se mais vantajosa.

Já a professora da UFPA Kelly Dantas comentou sobre a extração de carotenoides e estratégias analíticas para determinar elementos traço em comidas da região Norte do país. Conforme a docente, é possível obter uma melhor sensibilidade para alguns alimentos com a extração em micro-ondas. Entre os alimentos analisados, está a pupunha, que é rica em carotenoides e um alimento típico do estado do Pará. “Os paraenses comem a pupunha cozida no café da manhã, ela é rica em carotenoides. Para a amostragem, pegamos a polpa, secamos e pulverizamos. A ideia é usar a fruta da forma como a população come, por isso foi cozida por trinta minutos”, detalhou.

Associada à extração em micro-ondas, Dantas afirmou que a espectrofotometria apresenta melhores condições de determinação de carotenoides. “Com essa técnica, conseguimos extrair 61% de carotenoides da polpa da pupunha”, comemorou.


Análises forenses
Para o tema final, os palestrantes foram Clésia Nascentes, professora associada no Departamento de Química da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); Jez William Batista Braga, professor do Magistério Superior na Universidade de Brasília (UnB); e Boniek Gontijo Vaz, professor na Universidade Federal de Goiás (UFG).

Clésia abordou os desafios e contribuições das pesquisas em Química e toxicologia forense. “Vivemos um cenário de grande desenvolvimento não só no Brasil, mas no mundo todo. Essa ciência vem para melhorar a vida da população, mas esse conhecimento gerado também pode ser utilizado para ações ilícitas. O mesmo conhecimento que é desenvolvido para um fármaco pode ser utilizado para uma nova droga, e isso traz esse desafio para as ciências forenses”, alertou.

Jez William Batista Braga, da UnB, apresentou algumas aplicações da Quimiometria para amostras de interesse forense. Inicialmente, ele destacou que um dos principais fatores que levam a aplicação da quimiometria é a ausência de seletividade da amostra e que um outro caminho, quando se tem ausência de seletividade, é a utilização de métodos de separação. Porém, segundo o professor, o uso dessas técnicas gera um grande volume de dados, o que também resulta na possibilidade de aplicação da quimiometria.

Entre os diversos trabalhos apresentados por Braga, está o de identificação da falsificação de documentos por meio da análise de tintas de caneta. “É possível detectar tinta de canetas em documentos pela degradação natural de corantes”, resumiu.

O professor da UFG Boniek Vaz falou sobre a espectrometria de massas por substrate spray ionization e suas potencialidades em análises forenses. “O objetivo é tornar a técnica cada vez mais simples, ter análises diretas e tentar sair do laboratório, ir para o mundo”, projetou. Com essa técnica, é possível aplicar o spray sobre selos de drogas sintéticas e gerar íons que indicam a presença de drogas, semelhante ao que acontece com o teste colorimétrico, usualmente utilizado para detectar cocaína.


Feira
A Analitica Latin America é considerada o principal evento da indústria química analítica da América Latina. Realizada em São Paulo (SP), é considerada um ponto de encontro mundial da indústria química analítica, além de ser o principal elo entre a indústria e a academia. O encontro, realizado entre os dias 26 e 28 de setembro, reúne fornecedores, distribuidores, fabricantes e pesquisadores do setor, além de Profissionais da Química.

Simultaneamente à Feira, ocorre o 9º Congresso Analitica, no qual foram debatidos temas do mercado de alimentos, farmacêutico, controle de combustíveis, energias alternativas e Química Verde. Pelo segundo ano seguido, o Congresso fez parceria com o Encontro Nacional de Química Analítica (ENQA).

Fonte: https://cfq.org.br/noticia/tecnicas-para-analises-ambientais-forenses-e-de-alimentos-sao-destaque-no-9o-congresso-analitica-em-sp/

Conselho Regional de Química 2ª Região

Minas Gerais

 Rua São Paulo, 409 - 16º Andar - Centro, Belo Horizonte - MG - 30170-902

 (31) 3279-9800 / (31) 3279-9801