A extração mineral foi o tema principal das palestras e conferências do segundo dia de atividades do X Encontro Nacional de Química Ambiental (ENQAmb). O congresso ocorre em Ouro Preto (MG) até quinta-feira (21) e o Conselho Federal de Química (CFQ) além de acompanhar os debates técnicos está participando do evento com um estande na feira de exposição.
Segundo a presidente do evento, Roberta Fróes, uma das razões que influenciaram na escolha da cidade para sediar o encontro foi o fato de terem ocorrido desastres ambientais no estado de Minas Gerais, envolvendo empresas de mineração. O rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, por exemplo, liberaram contaminantes no meio ambiente gerando grande impacto humano e socioeconômico.
Impacto ambiental da mineração
Após o desastre em Mariana, os rejeitos da mineração escoaram alcançando o leito do Rio Doce, e seguiram seu curso até a foz, na zona costeira do Espírito Santo. O professor Jeferson Rodrigues de Souza, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), lidera um projeto que monitora a contaminação na costa capixaba e no ENQAmb apresentou os resultados das análises realizadas por seu grupo de pesquisa.
Na apresentação, Rodrigues explicou que as zonas costeiras, devido à sua característica dinâmica, são sensíveis aos desequilíbrios químicos provocados por fatores de origem natural e por fatores decorrentes da atividade humana.
“O Rio Doce impacta na distribuição química dos elementos, mais ao norte”, disse Rodrigues. O grupo observou que cerca de 70% dos sedimentos se direcionou às praias do norte do estado, e 30% ao sul. O aumento na concentração de contaminantes, provenientes dos rejeitos da mineração, produz efeitos deletérios. “O rejeito está presente diluído no sedimento natural, mas a incidência de ondas, ventos e marés tem impacto, e assim construímos o mapa da contaminação ambiental”, explicou.
Contaminação por mercúrio
Na mesa redonda do segundo dia do congresso o foco da discussão foi a contaminação pelo mercúrio em diversos contextos. A professora Tereza Cristina Souza de Oliveira, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), relatou sobre sua pesquisa na bacia do Rio Negro (AM), em que analisa a concentração do elemento químico nos recursos hídricos.
“Se o mercúrio está na água, mesmo em baixas concentrações, está bioacumulando em algas, peixes, até chegar em nós, humanos”, ressaltou. “Saber esses níveis de mercúrio para padronizar o diagnóstico ambiental nos permite contribuir para a elaboração de políticas públicas”, frisou. Oliveira destacou que, na região amazônica, o mercúrio presente na água tem origem natural e antropogênica e se espalha nos corpos d’água que abastecem a região. Com relação às atividades humanas, nesse aspecto, destacam-se o garimpo, o desmatamento e a dragagem.
Diante desse cenário, a professora formulou um projeto de extensão que consistiu na elaboração de um protocolo para que as comunidades locais construíssem filtros. O carvão ativado presente na ferramenta é produzido a partir da torra do caroço do açaí, fruto muito presente na região. “Assim, ainda reaproveitamos o que seria descartado”, afirmou.
Contribuindo com o debate, a pesquisadora Anne Hélène Fostier, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), discorreu sobre a Mineração Artesanal e em Pequena Escala (MAPE) do ouro, no âmbito da Convenção de Minamata, da ONU, da qual o Brasil é um dos signatários. O documento estabelece regras para o controle do uso de mercúrio visando proteger a saúde humana e ao meio ambiente. Segundo afirmado, a MAPE corresponde a 20% da produção de ouro no mundo.
Anne classificou o problema da contaminação da água na extração do ouro como complexo, pois, além da questão ambiental, há também implicações sociais. “Se não houver um envolvimento de todas as partes, sejam os mineradores, os povos indígenas, os órgãos governamentais, as ONGs, as cidades, o setor de saúde e outros, não vai avançar. É um problema que precisa obrigatoriamente de um consenso.”
Uma das alternativas apresentadas na Mesa Redonda foi a substituição do mercúrio por vegetais. A presidente do evento, Roberta Fróes, explicou que lidera pesquisas com plantas, como ora-pro-nobis e quiabo, para a extração do metal. Uma outra vantagem apresentada por ela foi que o ouro extraído nesses processos inovadores pode ser “vendido por preço maior do que o ouro obtido com mercúrio”, afirmou.
Poluição do ar
O evento não se limitou ao debate dos efeitos da exploração mineral, também incluiu discussões sobre o impacto do uso de pesticidas, sentido por populações de abelhas; sobre a contaminação da água, por antibióticos; e sobre os impactos da poluição do ar na saúde humana.
A respeito do último tema, a professora da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) Leila Oliveira apresentou os resultados da pesquisa da concentração de contaminantes do ar na cidade de Itabuna (BA) e alertou para alguns riscos dessa exposição.
“A permanência de contaminantes no ar e a predisposição genética podem interferir na saúde”, alertou. A professora focou sua análise em 16 tipos de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), liberados sobretudo pela queima incompleta de combustíveis, os quais foram associados a problemas de saúde como depressão, infarto, bronquite e redução da expectativa de vida. O estudo buscou demonstrar os riscos da exposição prolongada.
Fonte: https://cfq.org.br/noticia/extracao-mineral-e-tema-dominante-em-palestras-no-2o-dia-do-enqamb/
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