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Diferentes linguagens no ensino de Química e reformas educacionais marcam discussões durante o XXII ENEQ

Na manhã da última quarta-feira (11), durante o XXII Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ), realizado em Belém (PA), o foco das apresentações esteve em duas palestras principais que trouxeram debates importantes sobre a aplicação de diferentes linguagens no ensino de Química e as implicações das reformas educacionais.

Na primeira palestra, intitulada “Diferentes linguagens nas aulas de Química”, a professora Paloma Nascimento dos Santos, do Instituto de Química da Universidade Federal da Bahia (UFBA); o professor José Euzébio Simões Neto, do Departamento de Química da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE); e o docente Wallace Alves Cabral, do curso de Química da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), abordaram o uso de quadrinhos e outras linguagens como ferramentas pedagógicas no ensino de Química.

A professora Paloma dos Santos iniciou o debate destacando que, embora os quadrinhos sejam frequentemente considerados apenas uma forma de entretenimento, eles oferecem uma estrutura narrativa que pode facilitar a compreensão de conceitos complexos. “Os quadrinhos têm uma forma de narrativa que facilita a visualização e a compreensão de conceitos científicos abstratos”, afirmou.

Ela também abordou os desafios dessa abordagem, como a necessidade de tempo para uma leitura aprofundada e para discussões detalhadas em sala de aula. “Utilizar quadrinhos como um recurso educativo eficaz exige mais do que simplesmente apresentá-los; é preciso integrar a narrativa visual e textual com o conteúdo científico de maneira a promover uma aprendizagem eficaz”, explicou.

O professor José Euzébio analisou a questão sob a perspectiva da cultura de massa. “A cultura de massa, muitas vezes vista com ceticismo, pode ser reapropriada para fomentar a educação e a crítica midiática”, esclareceu. Ele mencionou a série “Doctor Who” como exemplo de como a televisão pode transmitir conhecimentos científicos de maneira envolvente. “A integração de elementos culturais populares, como séries e quadrinhos, no ensino pode criar oportunidades únicas para a aprendizagem”, acrescentou.

Já Wallace Alves Cabral ofereceu uma reflexão crítica sobre a formação docente e o uso de diferentes gêneros textuais na educação. “A formação de professores muitas vezes se limita a um repertório restrito de gêneros textuais, como relatórios e artigos científicos, o que pode restringir a criatividade e a diversidade metodológica no ensino”, destacou.

Ele sugeriu que a introdução de gêneros como quadrinhos e poesia na formação docente poderia enriquecer a prática pedagógica e promover uma abordagem mais holística da educação. “A inclusão de diferentes formas de expressão textual na formação de professores pode ampliar a capacidade dos futuros educadores de engajar e motivar seus alunos”, concluiu.

Reformas curriculares
Na segunda palestra do dia, Fernando Cássio, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), e Agustina Rosa Echeverría, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), debateram as implicações das reformas curriculares na formação de professores de Química.

Fernando Cássio criticou as políticas curriculares que, segundo ele, perpetuam práticas tradicionais e resistem à inovação. “As reformas curriculares frequentemente enfrentam forte resistência devido à persistência de estruturas tradicionais e à ênfase em avaliações de larga escala”, observou.

Ele argumentou que essa resistência limita o potencial das reformas para promover uma educação mais adaptativa e centrada no aluno. “Para que as reformas curriculares sejam verdadeiramente eficazes, é necessário um compromisso com a inovação e uma reavaliação das práticas educacionais estabelecidas”, pontuou.

Agustina Echeverría, por sua vez, abordou o currículo educacional como um campo de disputa política e social. “O currículo não pode ser visto isoladamente das lutas sociais e políticas. É fundamental adotar uma postura crítica em relação ao sistema capitalista e considerar o currículo como um espaço de resistência e transformação”, disse.

Ela ressaltou a importância do fortalecimento dos sindicatos e da mobilização dos professores para promover mudanças eficazes. “Em um cenário de enfraquecimento dos sindicatos, é necessário que os educadores continuem a lutar por um currículo que reflita uma visão crítica e inclusiva da educação”, concluiu.

Apresentações orais
Durante a manhã, também ocorreram sessões de pôsteres e apresentações orais, além da mostra de material didático (MOMADIQ), que proporcionaram a troca de ideias e a inclusão de novas estratégias e ferramentas para o ensino de Química.

Mesa-redonda
À tarde, o evento ganhou uma nova dimensão com a mesa-redonda intitulada “Tendências para a formação de professores que atuam na educação básica: o caso da pós-graduação stricto sensu da área de ensino.” O debate contou com a participação da professora Ivanise Maria Rizzatti, da Universidade Federal de Roraima (UFRR), e do professor Marcelo Lambach, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).

Ivanise Rizzatti iniciou a apresentação com uma análise crítica sobre a formação de professores. “Estamos realmente conectando nossas pesquisas com as necessidades da formação de professores?”, questionou. “Além disso, quem são os formadores de formadores? Muitos pesquisadores na área de ensino vêm de campos específicos e enfrentam um grande desafio ao fazer a transição para o ensino”, completou Rizzatti.

Ela refletiu sobre a desconexão entre a pesquisa e a prática, observando uma rigidez em alguns programas que ainda estão muito centrados na pesquisa de áreas específicas, sem considerar adequadamente as necessidades da formação de professores. “Precisamos entender quem são os formadores de formadores e como eles estão se preparando para desempenhar esse papel”, ponderou.

A professora também destacou a falta de estudos focados nos professores, o que representa uma grande lacuna na área de pesquisa. “Enquanto vemos uma abundância de pesquisas sobre estudantes da educação básica e sobre a formação continuada dos professores, há uma carência de investigações sobre quem está preparando esses formadores. Precisamos discutir isso mais profundamente”, afirmou.

Marcelo Lambach também contribuiu para o debate, apontando a necessidade de adaptação dos programas de pós-graduação às reais demandas da prática docente. Ele destacou que os currículos precisam ser revisados para garantir que os futuros professores estejam efetivamente preparados para enfrentar os desafios da educação básica.

XXII ENEQ
Voltado para docentes de Química e Ciências da educação básica, do ensino superior e estudantes de licenciatura e pós-graduação, o XXII Encontro Nacional de Ensino de Química ocorreu de 9 a 12 de setembro em Belém (PA). O evento teve o objetivo de debater o cenário atual de defesa e resgate de direitos na esfera social, ambiental e no campo da educação pública.

Paralelamente ao evento, também foram promovidas a primeira edição do Encontro Regional de Ensino de Química – Norte (EREQUI – Norte) e a 8ª edição da Mostra de Materiais Didáticos de Química (VIII MOMADIQ).

Fonte: https://cfq.org.br/noticia/diferentes-linguagens-no-ensino-de-quimica-e-reformas-educacionais-marcam-discussoes-durante-o-xxii-eneq/

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