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Segundo dia do CBCTA em Florianópolis: microplásticos e contaminantes em alimentos são destaques da programação

No segundo dia do Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Alimentos (CBCTA), realizado em Florianópolis (SC), o destaque ficou por conta do debate sobre os riscos trazidos pela contaminação por microplásticos. O tema, ignorado por décadas, entrou no radar dos cientistas e se converteu em preocupação real neste século – já que muitas dessas moléculas não tiveram seu impacto devidamente mapeado para a saúde humana e para o meio ambiente.

Uma das palestrantes da Mesa Redonda – Contaminantes Químicos em Alimentos, a pesquisadora Eliane Teixeira Marsico, da Universidade Federal Fluminense (UFF), traçou um cenário bastante severo sobre a questão no painel “Rastreando microplásticos: a conexão entre o ambiente e nossos alimentos”.

“A gente fala da presença dos microplásticos muito em ambientes como os oceanos, nos produtos do mar, mas na realidade estão em todos os ambientes. E microplásticos, só para deixar bem estabelecido aqui a problemática, são polímeros. Polímeros, de acordo com a IUPAC, é um material que pode ou não conter substâncias que melhorem o desempenho e reduzam custos. Está presente entre a gente desde a Revolução Industrial, que foi aumentando, aumentando, aumentando. Hoje em dia a gente já não se imagina em nenhuma situação onde o plástico não esteja presente. Inclusive nas nossas próprias vestimentas, visto que a maioria dos tecidos são produzidos com fibras sintéticas. Então, todas as vezes que a gente se referir a microplástico, nós estamos nos referindo a esses polímeros. São moléculas químicas e a grande maioria delas são bastante danosas ao nosso organismo”, afirmou Eliane.

A pesquisadora da UFF traçou um histórico da incorporação das substâncias pela indústria – e do quanto as ações de regulação caminham um passo atrás na delimitação dos riscos de cada substância.

“Aqui uma coisa que é muito alarmante, é que nós temos 16 mil substâncias químicas, dentre as quais 4.200 são perigosas para a saúde e para o meio ambiente e, dentre essas, 980 são altamente perigosas e não tem regulamentação nenhuma. 3.600 não tem nenhum tipo de regulamentação. Então é uma coisa que também aumenta a nossa preocupação. E no Brasil a gente tem aí uma produção anual de 5 bilhões de itens descartáveis de plástico e ínfimas taxas de reciclagem, o que é complicado para a gente. Estamos lidando com um país que, no futuro próximo, vai ver que não está tratando muito bem dessa situação”, complementou.

Apesar do cenário desafiador, ela enxerga caminhos possíveis para preservar algum otimismo.

“Eu acredito que a única coisa que vai levar a alguma melhoria é a conscientização do consumidor. Somente com a colaboração de todos, formuladores de políticas públicas, consumidores, pesquisadores, fabricantes, todos trabalhando numa questão de responsabilidade social corporativa, é que a gente vai conseguir chegar em algum lugar com relação a todos esses contaminantes emergentes. A gente está passando pelo processo da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas e, trabalhando com microplástico, a gente atende a vários dos objetivos de desenvolvimento sustentável”, concluiu.

Na palestra seguinte, o pesquisador Rodrigo Barcellos Hoff, do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária do Rio Grande do Sul (LFDA-RS) avançou na mesma temática, com “Contaminantes químicos em água e alimentos”. Barcellos trouxe informações adicionais, como a característica da participação do homem na elaboração dos poluentes que agora preocupam a humanidade.

“Uma característica dos contaminantes emergentes é que, com algumas poucas exceções, como as biotoxinas marinhas emergentes e as micotoxinas emergentes, que a professora Eliana falou, e os genes de resistência bacteriana, a grande maioria são de origem antropogênica, ou seja, os contaminantes emergentes são moléculas que nós produzimos, que não existiam na natureza. Falando de novo dos fármacos, por exemplo, os antibióticos, os antiinflamatórios, os antidepressivos, a esmagadora maioria dessas substâncias é sintetizada ou passa por processos e chega no ambiente por origem antropogênica. Então a sociedade humana que produz, que criou essas moléculas e introduziu elas dentro do ambiente”, assinalou.

Barcellos Hoff trouxe ainda uma apreensão, a de que os sistemas de esgotamento sanitário sejam qualificados de forma a identificar e prevenir novas substâncias poluentes ainda não mapeadas.

“Trago o resumo de um estudo bastante amplo que avaliou sistemas terciários de tratamento de esgoto para ver se eles seriam eficazes ou não na remoção de alguns contaminantes emergentes. Vocês podem ver que alguns falharam, e a gente está falando de sistemas terciários, tratamento com ozônio, com lâmpada UV, que as nossas estações de tratamento, a esmagadora maioria delas, não têm”, ponderou.

Ele disse também que o primeiro estudo de peso sobre os microplásticos, por exemplo, ocorreu em 1972, mas que o assunto não despertou interesse na comunidade científica até o começo deste século.

“O assunto ficou quase 50 anos, assim, meio na moita. Lá em 2004, que o Richard Thompson cunhou o termo ‘microplásticos’, provavelmente citou os trabalhos do Edward Carpenter. Mas é uma coisa estranha, né? Às vezes, dados são publicados, eles são alarmantes, mas parece que não dá nada. Aí, lá na frente, alguém pega aquilo e diz assim, ‘não, gente, espera aí, nós temos que revisitar isso aqui com atenção máxima pra ontem, né? Isso aqui é muito importante, é muito perigoso”, concluiu Hoff.

O Sistema CFQ/CRQs participou do 29ª CBCTA, em Florianópolis (SC), na condição de patrocinador. O Sistema CFQ/CRQs contou com um estande, onde atendeu Profissionais da Química que atuam no setor de alimentos e empresas do segmento alimentício. No estande, os conselheiros federais de Química Silvana Calado, Djalma Santana Nunes e Suely Schuh participaram do atendimento, ao lado de Diego Freitas, da Ouvidoria do CFQ, e de representantes do Conselho Regional de Química da 13ª Região (CRQ XIII – Santa Catarina).

Fonte: https://cfq.org.br/noticia/segundo-dia-do-cbcta-em-florianopolis-microplasticos-e-contaminantes-em-alimentos-sao-destaques-da-programacao/

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