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Veículos elétricos abrem espaço para resinas inovadoras

Plástico no Automóvel: Advento dos elétricos abre caminho para desenvolver mais resinas de engenharia

A indústria automobilística passa por profunda transformação em todo o mundo. A necessidade de descarbonização da atmosfera, demanda de consumidores espalhados pelos quatro cantos do mundo, provoca o crescimento do uso de novos propulsores nos veículos, em especial os totalmente elétricos ou elétricos/híbridos. Para a indústria do plástico, essa alteração incentiva o surgimento de resinas inovadoras destinadas para a fabricação de baterias e outros componentes presentes nos novos modelos. Esses produtos chegam ao mercado em alta velocidade, mas ainda são pouco consumidos no mercado interno, onde a produção de veículos com propulsão elétrica é embrionária.

Em paralelo, também em nome do combate à poluição, continua premente a necessidade de se reduzir o peso dos veículos. A motivação movimenta o setor há muitos anos e tem o objetivo de fazer os veículos consumirem menos combustíveis. Esse é outro motivo para os fornecedores de matérias-primas investirem grandes quantias na pesquisa e desenvolvimento de resinas que tornem possível a substituição de metais. Não falta trabalho para gigantes do mundo químico, nomes como Braskem, Basf, Covestro, Radici e Syensqo (uma divisão da antiga Solvay), entre outras.

Transformações previstas à parte, o atual momento das vendas de veículos no Brasil se mostra positivo. No acumulado de janeiro a agosto, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o número de emplacamentos de automóveis atingiu a casa dos 1,623 milhão de unidades, contra 1,432 milhão no mesmo período do ano passado, com crescimento de 13,3%. O acumulado deste ano é o melhor desde 2019. Nesses números estão incluídas as importações de veículos, em especial da China.

Um dado é motivo de preocupação. Os veículos totalmente elétricos eram importados com imposto zero. O governo instituiu um imposto de importação de 18% que entrou em vigor a partir de primeiro de julho. Antes de vigorar, as montadoras internacionais aumentaram de forma expressiva a importação e hoje existe um estoque de 90 mil veículos importados para entrar no mercado.

“Ninguém sabe o que será feito desses veículos e a influência que eles provocarão nas vendas internas”, explica Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea.

Um número bastante importante para a indústria automobilística nacional é o das unidades produzidas de janeiro a agosto, que saltou de 1,541 milhão em 2023 para 1,644 milhão em 2024, avanço de 6,6%. Também significativo é o anúncio, por parte das montadoras que já atuam ou querem se instalar no Brasil, de investir R$ 130 bilhões nos próximos anos. “As fábricas estão acelerando em função não só da reação consistente do mercado interno, mas também pela quantidade de lançamentos importantes”.

Vale lembrar que o governo federal sancionou em junho a lei que cria o programa de Mobilidade Verde e Inovação (Mover), muito bem aceito pelas lideranças da Anfavea. Ele prevê o estímulo para investimentos em tecnologia da descarbonização da frota automotiva brasileira, além de limites mínimos de reciclagem na fabricação dos veículos, entre outras providências.

O valor de R$ 130 bilhões inclui montantes previstos para a instalação de duas novas montadoras, ambas de origem chinesa, comprometidas com o mercado dos elétricos e com início de atividades previsto para esse ano. São elas a GWM, localizada em planta outrora ocupada pela Mercedes em Iracemápolis-SP, e a BYD, com planta em Camaçari-BA, nas antigas instalações da Ford.

Futuro: veículos híbridos e elétricos

Um estudo realizado pelo Boston Consulting Group e patrocinado pela Anfavea foi apresentado no início de setembro. A pesquisa traz uma perspectiva de como será o futuro do mercado de automóveis nos próximos anos e a consequência dos novos tempos em relação à descarbonização da atmosfera.

“Ele contou com mais de cinco mil horas de entrevistas, feitas com três mil especialistas da América Latina, Europa, China, Estados Unidos e Índia, e demandou treze meses de elaboração”.

O estudo mostra que a venda de veículos híbridos e elétricos leves pode ultrapassar a de veículos a combustão até o fim desta década, atingindo 1,5 milhão em 2030. Em 2040, eles podem representar mais de 90% das vendas. No caso do segmento de veículos pesados, em aplicações como ônibus urbanos, as versões com o uso da eletricidade podem ultrapassar 50% das vendas já em 2035 e representar 60% em 2040.

Atualmente, o setor automotivo emite 242 milhões de toneladas de CO2 por ano, o que representa cerca de 13% das emissões totais do Brasil. Se o ritmo atual de crescimento for mantido, as emissões poderão atingir 256 milhões de t em 2040. O estudo mostra, no entanto, que ao se intensificar o uso das novas tecnologias combinadas com a maior utilização de biocombustíveis, deve-se obter redução de emissão de até 280 milhões de t de CO2 nos próximos 15 anos.

“Essa redução pode ser ainda mais expressiva, alcançando 400 milhões de t no mesmo período, caso sejam adotadas algumas medidas”, ressalta o presidente da associação. Entre elas, renovação da frota, adoção de inspeção veicular, aumento do poder calorífico dos biocombustíveis e implementação de programas de reciclagem veicular.

“Esse avanço envolve o desenvolvimento de um ecossistema abrangente, que inclui a cadeia de fornecedores, infraestrutura de recarga, geração e distribuição de energia, além da produção de biocombustíveis”, aponta Leite.

Indústria nacional também foca nos veículos elétricos

Entre os fornecedores de matérias primas, a brasileira Braskem comercializa várias matérias primas utilizadas no segmento automotivo.

“Nossas vendas cresceram 13% de janeiro a agosto deste ano no comparativo com o mesmo período do ano passado. Temos a expectativa de chegar ao final do ano com crescimento superior a 10%”, informa Leonardo Gaban, gerente comercial do segmento automotivo. O gerente ressalta que os números podem cair nos próximos meses em razão do alto nível de estoque de veículos importados e de possível readequação da produção nacional.

Entre os materiais oferecidos, os mais procurados são os das famílias de polipropileno e polietileno. O polipropileno é muito utilizado em peças automotivas devido à sua leveza, resistência e capacidade de moldagem. As aplicações incluem para-choques, painéis internos, consoles, molduras e componentes de interiores. O polietileno é aplicado na produção de tanques de combustível, dutos de ar-condicionado, reservatórios, protetores de caçamba e componentes dos veículos que requerem resistência química e mecânica.

O desenvolvimento de soluções sustentáveis para todos os tipos de veículos, sejam elétricos, híbridos ou a combustão, está presente na estratégia da empresa. A marca tem desenvolvido produtos adequados para os diferentes tipos de processo.

“Eles proporcionam vantagens aos clientes, seja na maximização das propriedades e nos ganhos de produtividade”. Independente disso, o mercado está demandando por produtos sustentáveis.

Entre as novidades, o engenheiro aponta os grades de PP Copolímero “que apresentam ótimo balanço de propriedades, além de conferir excelente aparência aos produtos finais”.

Na família de economia circular, ele destaca os grades PCR, com ampla faixa de índice de fluidez, voltados para viabilizar o maior número de aplicações possíveis, além de formulações de origem bioatribuída. “Ainda na frente de descarbonização, temos desenvolvido cada vez mais aplicações com o polietileno verde, proveniente da cana-de-açúcar, que confere a redução da pegada de carbono para a cadeia produtiva”.

Boas perspectivas

O crescimento das vendas de matérias primas da Basf acompanha de perto o desempenho da indústria automotiva.

De acordo com Boscolo, a Basf desenvolve soluções sustentáveis presentes em todas as etapas da cadeia produtiva do veículo.

“O nosso portfólio de produtos inclui plásticos de engenharia, espumas de poliuretano e de especialidade, catalisadores, lubrificantes, aditivos de combustíveis, fluidos de freio e de arrefecimento e tratamento de superfícies anticorrosão”.

No campo dos plásticos de engenharia, o portfólio é formado pelas resinas PA 6.6, PA 6, PBT, POM, PPA e TPU. “Nesse segmento, os materiais com maior demanda são, sem dúvida, as resinas de PA 6.6 e PA 6”. A empresa conta com novos produtos em fase final de desenvolvimento com pré-marketing previsto para o início do ano.

“Alguns estão em fase final de validação junto aos clientes”. Boscolo ressalta as linhas de PA 6.6 e PA 6 com conteúdo reciclado. “Os grades Ultramid A3WG6 RC Black e Ultramid B3WG6 RC Black, entre outros, têm se mostrado um enorme sucesso, apresentando forte crescimento e interesse do mercado”.

Também há vasta gama de compostos para responder às novas demandas dos veículos elétricos e híbridos. “São compostos com aditivos retardantes à chama, cargas elastoméricas, entre outras propriedades. As demandas passam por compostos de PA 6.6, PA 6 e compostos de PBT”. O especialista explica que ainda não há, no momento, nenhum desenvolvimento local, uma vez que a demanda das OEM para esse tipo de veículo ainda é embrionária no Brasil. “A Basf tem vasto portfólio produzido em outras regiões, capaz de suprir qualquer necessidade local”.

Acima da média

As vendas da Covestro se encontram em bom momento. Jéssica Martendal, head para a América Latina da divisão de plásticos de engenharia, dá informações sobre o mercado.

Costábile Landim, representante técnico de plásticos de engenharia fala sobre o portfólio da empresa. “Disponibilizamos ao mercado automobilístico resinas, blendas e especialidades de policarbonatos através das marcas Apec, Bayblend, Makroblend e Makrolon”.

A família Bayblend é composta por blendas de policarbonatos e estirênicos, como ABS e ASA. “Elas oferecem excelente equilíbrio de propriedades, como alta tenacidade mesmo em baixas temperaturas, rigidez, estabilidade dimensional e outras”. São recomendadas para fabricação de componentes de iluminação, acabamento interno e externo e outros.

“A série Makrolon é composta por policarbonatos extremamente robustos, leves, com transparência semelhante à do vidro e resistentes a impactos. Têm alta estabilidade dimensional e é facilmente moldado”. Os produtos Makrolon são indicados para a fabricação de lentes de faróis, refletores e guias de luz, entre outros componentes. Uma aplicação inovadora é a fabricação de peças ópticas com eficiência energética para luminárias LED.

A evolução do uso de veículos com algum tipo de propulsão elétrica também está na pauta da Covestro.

Tais desafios estão conduzindo à transição do uso de materiais semicristalinos para amorfos em componentes de trem de força. “Esses componentes, que vão de plugues de alta tensão a sensores, entre outros, exigem estabilidade dimensional aprimorada, empenamento mínimo e outras propriedades”. Para essas aplicações, ele indica as famílias Apec FR, Bayblend FR, Makroblend FR e Makrolon TC.

Outro importante aspecto ressaltado no portfólio da empresa se encontra no foco do desenvolvimento de materiais com fonte renovável. “Desde 2021, com o lançamento do primeiro policarbonato climaticamente neutro, temos ampliado nossa gama de produtos”.

Dois dígitos

“A divisão de polímeros especiais da Syensqo, parte da antiga Solvay, vem há mais de uma década apresentando crescimento de dois dígitos ano a ano”, informa André Savioli, gerente de contas estratégicas da unidade de negócios global de polímeros especiais. Savioli explica que o aumento da demanda por polímeros especiais começou em paralelo ao surgimento dos motores de baixa cilindrada turboalimentados.

A estratégia da empresa agora é estar preparada para a nova onda que deve chegar ao Brasil, a dos carros híbridos/elétricos.

Recentemente chegaram ao mercado várias novas famílias de produtos voltados para esse nicho. Entre elas, Amodel Supreme, Amodel Bios e Ryton Supreme. “São produtos projetados para componentes elétricos mais exigentes, nos quais alta rigidez dielétrica, índice de rastreamento comparativo e melhor fluxo são necessários em sistemas como motores elétricos, eletrônicos de potência e baterias”.

Hoje, as principais soluções que a Syensqo oferece ao mercado automotivo incluem as linhas Amodel PPA, Ryton PPS, KetaSpire PEEK, Torlon PAI e Tecnoflon FKM. Esses materiais são amplamente utilizados em motores a combustão, híbridos e elétricos. De acordo com Savioli, a linha Tecnoflon FKM é mais procurada para a produção de vedações e juntas exigentes, onde temperatura, resistência química e vedação são requisitos essenciais.

Os produtos Amodel PPA e Ryton PPS são amplamente utilizados como alternativas aos metais fundidos (Al e Mg) para componentes mecânicos como carcaças de termostato, bombas elétricas de água e óleo e, mais recentemente, invólucros de bateria de 48 volts, entre outras aplicações. “Tanto o KetaSpire PEEK quanto o Torlon PAI são utilizados em caixas de câmbio e componentes de freio, como arruelas de encosto, anéis de vedação, rolamentos e pistões”, emenda.

Alguns polímeros especiais chegaram ao mercado recentemente. “O PPS Ryton R-7-600 HV é adequado para módulos de potência ou componentes eletrônicos que os engenheiros procuram tornar compactos ou miniaturizar. O Ryton R-4-500 HF é uma classe PPS de alto fluxo que permite peças de paredes mais finas, como bobinas de motor elétrico, onde um dos principais benefícios é ganhar mais cobre, aumentando assim a eficiência do motor”.

Crescimento alinhado

O setor automotivo é o principal cliente da Radici Plastics, representa mais de 45% das vendas da multinacional italiana.

A matéria prima da empresa mais procurada para esse segmento tem sido as poliamidas PA 6 e PA 6.6. “Ainda temos em nosso portfólio ampla gama de plásticos de engenharia, como POM, PBT, PPA e PPS”.

A Radici conta com algumas novidades. Está lançando no Brasil a linha de produtos sustentáveis Renycle, obtido a partir de matérias primas de fontes pós indústria e pós consumo. “Ela tem certificado de origem e visa atender as necessidades atuais de redução de emissões de CO2 da indústria automotiva”. Outro produto destacado por Baruque é a linha de PA 6.6 especial Radistrong, indicada principalmente para substituir metais. “Ela apresenta maior resistência à fadiga e à deformação, com excelente acabamento superficial, e pode ser utilizado em temperaturas de 160 a 170°C em contato com o ar”.

Baruque também ressalta as séries com alta resistência ao calor Radilon HHR, Radilon Aestus e Torzen Marathon, indicadas para aplicações que envolvem ambientes de alta temperatura e tempos de exposição de até 3 mil horas ou mais.

Com foco principal nos mercados da Europa e China, a empresa desenvolve diversas soluções para o mercado dos automóveis elétricos. Embora tenha amplo portfólio, as poliamidas são os principais produtos para esse segmento.

“Desenvolvemos produtos na cor laranja para componentes de alta tensão, nas marcas Radiflam, Radilon e Raditer, que são eletricamente neutros e possuem uma série de outras características. As principais aplicações incluem plugues de carregadores, soquetes, componentes de bateria e outros”.

Fonte: https://www.plastico.com.br/veiculos-eletricos-abrem-espaco-para-resinas-inovadoras/

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