No terceiro dia do 9º Encontro Nacional de Química Forense (ENQFor), ocorreu a palestra de Filipe Augusto Snel de Oliveira Barros. Ele é bacharel licenciado em Química e foi analista químico do Conselho Federal de Química (CFQ) nos últimos dois anos, quando deixou a posição para assumir como perito criminal no Estado de Goiás.
Ele foi o palestrante apontado pelo Sistema CFQ/CRQs para representar a instituição na programação do ENQFor e apresentou como tema “Os desafios da Química forense no combate à exploração ilegal de madeira no Brasil”, uma questão que aflige as forças de segurança e também os protetores ambientais, visto que a dificuldade em identificar a origem e a espécie de árvore cortada pode levar à impunidade dos infratores.
Snel explicou que variedades muito próximas de diferentes espécies de madeira são difíceis de serem distinguidas. Algumas dessas espécies são consideradas em extinção e seu corte é penalizado, mas outras semelhantes não são. A identificação por características físicas, por uma análise visual, anatomia da madeira, demanda a presença de profissionais, geralmente biólogos, experientes – uma mão de obra nem sempre disponível. Análises microscópicas das amostras, além de complexas, nem sempre são suficientes para apontar a qual espécie vegetal a amostra pertence.
“O que ilustra a importância de avançar nesse tema é o número de espécies em risco de extinção, eram 1.969 em 2014 e 3.209 em 2022”, afirmou o perito criminal.
Snel destacou as possibilidades, os métodos disponíveis para a identificação da madeira: DNA, espectrometria de massas e espectroscopia no infravermelho próximo. Ele apontou vantagens e desvantagens de cada um dos métodos e se debruçou nas condições oferecidas pelas possibilidades mais recentes – em especial, a espectroscopia no infravermelho próximo, a NIRS pela sigla em inglês.
“As vantagens da NIRS são várias. Ela permite análises rápidas, não destrutivas, amostras sólidas e que exigem um mínimo ou nenhum preparo. Ela também não gera resíduos químicos e é relativamente simples de ser manejado, existem dispositivos comerciais portáteis”, disse Snel.
As desvantagens trazidas por ele, no entanto, são a presença de umidade na madeira como elemento de interferência e a necessidade de um robusto banco de espectro, que ainda está em construção. Quanto à umidade, contudo, já existem técnicas de secagem que eliminam o problema.
Na opinião do perito criminal, perseguir metodologias que resolvam a questão da identificação das variedades da flora que estão ameaçadas é fundamental, na medida em que muitos infratores acabam se beneficiando na Justiça diante da incapacidade de comprovar se a madeira extraída e apreendida é de fato protegida pela legislação.
“O que pudemos concluir é que a identificação de espécies madeireiras é imprescindível para a aplicação eficaz da legislação e o método convencional, a anatomia de madeira, é muito limitado. Para tanto, desenvolver e apostar em métodos alternativos eficientes para identificação de espécies é uma necessidade. Entre eles, podemos destacar hoje a Análise Direta em Tempo Real (DART-TOF) e a tecnologia NIRS. Elas já apresentam vantagens sobre o método convencional. Um deles é que, além de rápidas, não são destrutivas. Em perícia não destruir a amostra para analisá-la é importante porque nos dá a possibilidade de uma contraprova no futuro”, concluiu Snel.
Além do ENQFor, ocorreram paralelamente em Ribeirão Preto o 6º Encontro da Sociedade Brasileira de Ciências Forenses (SBCF) e o 19º Congresso Regional Latino-Americano de Toxicologia Forense (TIAFT). O Sistema CFQ/CRQs, patrocinador ouro, se fez presente com um estande na área do ENQFor. Uma equipe do CFQ e do Conselho Regional de Química da 4ª Região (CRQ IV – São Paulo) deu atendimento aos profissionais no estande, dirimindo dúvidas, oferecendo informações e divulgando as ações do Sistema ao público.
Fonte: https://cfq.org.br/noticia/no-9o-enqfor-palestrante-filipe-snel-discute-dificuldades-da-quimica-forense-na-identificacao-de-madeiras-extraidas-ilegalmente/
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