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Negligência com vacinas traz de volta doenças do passado

Milhões de vidas já foram salvas no mundo graças às vacinas contra o sarampo, poliomielite, coqueluche e tétano, entre tantas outras doenças.


Milhões de vidas já foram salvas no mundo graças às vacinas contra o sarampo, poliomielite, coqueluche e tétano, entre tantas outras doenças. A importância delas para a sociedade, em escala mundial, foi assunto da live realizada pelo Conselho Regional de Química da 3ª Região (CRQ III). Para falar sobre o tema e esclarecer dúvidas referentes ao tópico, foi convidada a chefe do laboratório de hantaviroses e rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Dra. Elba Lemos.

Sob a condução do presidente do CRQ III, Rafael Almada, a conversa contemplou a história das vacinas, o combate às fake news, a contribuição indispensável do Sistema Único de Saúde (SUS) na imunização no Brasil, e os riscos dos movimentos antivacinas, que ameaçam fazer voltar a circular doenças já extintas no país.

Partindo de uma visão mais ampla sobre como funciona e para que servem as campanhas de imunização, Elba esclareceu diversas dúvidas que permeiam este cenário. "O sarampo, por exemplo, não foi erradicado. Quando se fala em erradicar significa que o vírus não existe mais no mundo. Quando se fala em eliminar, o vírus continua circulando, mas não há casos em humanos. Sobre o sarampo, o Brasil adquiriu da OPAS o certificado de eliminação, pois não havia mais casos", afirmou.

No entanto, segundo a doutora, o sarampo voltou a atingir o Brasil, devido à imigração de venezuelanos no país, provocando um novo surto da doença. Para ela, a explicação para a transmissão se dá pela falta de cobertura vacinal. "Os vírus não respeitam espaços territoriais. Neste caso houve a importação de vírus, e é necessário pensar que vivemos em um mundo globalizado. As pessoas se deslocam internacionalmente, e este é apenas um exemplo do que pode acontecer quando não se está protegido".

De acordo com a especialista, para que uma população esteja protegida é necessária uma taxa de vacinação de 95%. Para enfatizar seu argumento, ela apresentou dados que evidenciam uma sensível diminuição nas taxas de cobertura vacinal no Brasil ao longo dos anos. "É um caos silencioso este que estamos vivendo, porque agora só há espaço para se falar sobre a Covid. Mas não se pode esquecer de que estamos vulneráveis, extremamente suscetíveis a várias outras doenças. É fundamental que pessoas de todas as idades estejam com as vacinas em dia para uma série de doenças. Isso evita óbitos".

Fake News e Covid

Para Elba, a principal razão para a queda da cobertura vacinal, muito provavelmente, está relacionada à desinformação e às notícias falsas que, hoje, pelo advento da internet, são difundidas de forma mais rápida e mais efetiva do que as notícias de qualidade. Como exemplo, ela lembrou a história das fake news relacionadas à vacina, que surgiram em 1998, em artigo escrito por um médico britânico que associou a vacina contra rubéola, caxumba e sarampo a casos de autismo. O fato desencadeou pânico e gerou queda na cobertura vacinal, com subsequentes surtos dessas doenças.

"Não há evidências de ligações entre estas vacinas e o autismo. O estrago gerado naquela época é sentido até hoje, com consequências cada vez piores. Nunca conseguimos reparar este dano gerado, inclusive este médico foi banido pelo desserviço que causou".

As notícias falsas também encontraram terreno fértil na pandemia provocada pela Covid-19. No caso do coronavírus, elemento novo e que ainda precisa ser estudado, ela acredita que há muitas opiniões em voga e nenhuma chance para verdades imutáveis. "Eu acho que acabar com a transmissão, por ora, não será possível. Mas o fundamental é dizer que a vacinação reduz a possibilidade de óbitos e casos graves, e é isso que faz dela tão essencial para se pensar em superar a doença".

Sobre a permanência da Covid-19 no cotidiano, Elba não gosta de cravar opiniões, já que o vírus foge dos padrões e ainda é pouco conhecido. "Estamos em plena confusão, e esta falta de visão holística nos impede de levantar bandeiras de certezas. Diante de uma doença nova precisamos tomar cuidado com o que dizer, porque amanhã podemos ver que aquilo não fazia o menor sentido. Falta tempo de observação, falta estudo. Não podemos universalizar e unificar o que não é possível, precisamos pensar nas especificidades", completou.

No entanto, Elba tem uma certeza, a de que usar o bom senso pode salvar a sociedade. "Somos muito egocêntricos. Em meio a este antropocentrismo nos esquecemos que somos parte de uma grande rede, somos mais um neste cenário, e chegamos muito depois destes animais e agentes infecciosos. Pensamos em erradicar os vírus, mas não existe espaço vazio, logo ele é ocupado por outro. E tem muita interferência nossa nisso tudo, somos vítimas de nossas próprias ações. Ninguém é dono da verdade, temos que ter medo das certezas absolutas".

Almada, por sua vez, afirmou que, de fato, é um momento de muita reflexão como seres humanos e sociedade, e que profissionais como Elba são essenciais no processo. "Ficamos muito felizes em ver pessoas como você, que trazem informação e demonstram entusiasmo pelo que fazem para salvar vidas e, ainda, contribuem para a pesquisa e para a Ciência brasileira. A Ciência sempre nos dá respostas, e a gente precisa usá-la para melhorar as nossas vidas e este grande ecossistema no qual estamos inseridos".

Fonte:

Conselho Regional de Química 2ª Região

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