A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) realizou nesta semana o primeiro de quatro eventos do Seminário Abiquim de Tecnologia e Inovação 2021.
A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) realizou nesta semana o primeiro de quatro eventos do Seminário Abiquim de Tecnologia e Inovação 2021. As discussões ocorrerão semanalmente ao longo do mês de outubro e, no primeiro painel, o tema foi “Inovações Tecnológicas na Indústria Química”, que teve como palestrantes o diretor-executivo da Sociedade para a Engenharia Química e Biotecnologia (DECHEMA, na sigla em alemão) Andreas Förster; o especialista em inovação e tecnologia da Braskem, Márcio Rebouças e o pesquisador da Embrapa Silvio Vaz Júnior.
A primeira apresentação coube a Förster, que expôs um panorama completo de como a questão do combate ao aquecimento global norteia hoje em dia os esforços de inovação na Alemanha, país de origem dele, e na Europa como um todo.
“Entendemos que as mudanças climáticas são o maior desafio do nosso tempo. A indústria química europeia lançou um ambicioso plano em direção à neutralidade das emissões de carbono. Para alcançá-lo, não bastam técnicas incrementais. Há demanda por novas tecnologias”, afirmou.
Förster afirma que os europeus entendem que não haverá uma solução única capaz de levar sozinha a indústria à meta. As principais apostas, porém, incluem a “economia do hidrogênio”, o gerenciamento da água de uso industrial, economia circular e reciclagem, economia “biobaseada” e digitalização de processos.
Dentro desse rol de possibilidades, o engenheiro químico alemão destaca a economia do hidrogênio como uma das alternativas mais promissoras. Ele imagina que os empregos dados hoje ao hidrogênio serão ampliados no futuro, na indústria e na sociedade, seja como fonte de energia flexível, material para estocagem de energia, matéria-prima, para conversão do CO2, além de aplicação industriais de reciclagem de plásticos, geração de processos de calor.
“Hoje, o grande desafio a enfrentar no que diz respeito ao hidrogênio é o custo de obtenção de algumas de suas variações de uso industrial”, afirma.
Förster se debruçou ainda sobre as possibilidades trazidas pelo reaproveitamento do CO2, apontado por ele como “vilão do meio ambiente, mas também matéria-prima”, e o uso inteligente da água.
“No caso da água, sistemas de integração e de integração inteligente podem, combinados, reduzir ao mesmo tempo o consumo de água potável em até 60% e diminuir o volume de água desperdiçada em até 40% do total”, afirma.
Já Rebouças afirmou que a indústria química brasileira, em especial a Braskem, onde atua, tem como foco principal o reaproveitamento do CO2. A aposta é na construção de tecnologias de CCUS, acrônimo para Carbon Capture, Utilization and Storage – ou Captura de Carbono, Utilização e Armazenamento em tradução livre.
Em sua apresentação, ele explicou que a redução das emissões de CO2 da indústria é fundamental para o atingimento dos objetivos de enfrentamento das mudanças climáticas e que alguns setores da indústria têm desafios mais exigentes – como a de produção de cimento e de aço.
“Nosso limitador neste momento é que a CCUS está em estágio inicial. Nessa cadeia, o desafio é capturar COs de diferentes fontes e condições, convertê-lo ou estocá-lo por meio da mais apropriada ‘rota’ tecnológica, levando em conta que essa rota pode estar em um estágio inicial de desenvolvimento”, destaca.
Ele afirma que a indústria química pode desempenhar um importante papel na redução das emissões, mas que só uma comunhão de esforços pode trazer as CCUS à realidade.
“Deixamos claro que esse tipo de solução demandará mobilização de esforços combinados dos setores público e privado, para que seja possível impulsioná-la em tempo de cumprir nossos objetivos”, destaca.
Em seguida, Vaz Júnior apresentou a pesquisa coordenada por ele na Embrapa em que se analisa a “Captura de CO2 de fontes energéticas para a produção de nanocarbonatos”. A pesquisa se refere à produção de nanocorretivo (carbonato de cálcio nanoparticulado) para aplicação como corretivo do solo. O produto foi obtido a partir da captura de CO2 proveniente da usina termelétrica de Candiota (RS), que gera energia a partir da queima de carvão mineral.
“Esperávamos uma performance melhor que a do calcário agrícola tradicional, e isso foi atingido”, explicou o pesquisador da Embrapa.
A parte final do Seminário foi reservada às perguntas, sob mediação de Rafael Pellicciotta, gerente de estratégia, inovação e desenvolvimento de negócios da Braskem.
Ele fez uma provocação aos palestrantes, sobre o potencial das CCUS em resolver a questão das emissões de carbono.
“As CCUS são uma solução possível. Precisamos dessa tecnologia para armazenar o CO2 e desenvolvermos as formas de armazenar. Temos de desenvolver essas CCUS porque é algo essencial para chegarmos ao estágio de neutralidade climática que tanto desejamos”, afirma Förster.
Vaz Júnior também acredita que a solução passa pelo emprego tecnológico do CO2.
“O uso do CO2 como fonte de matérias-primas vai ter um papel relevante, em curto espaço de tempo para a descarbonização”, disse o pesquisador.
O representante da Embrapa opinou ainda sobre o papel que o Brasil terá nessa corrida pela redução das emissões de carbono.
“O Brasil tem grande destaque agrícola, uma possibilidade de contribuição muito grande na geração de tecnologias. Vendo de um ponto de vista amplo, temos um poder de influir muito grande. Há excelentes profissionais que trabalham na área química. Acredito que o que falta é um ambiente mais adequado para se colocar tudo isso em prática”, afirma.
Förster apresentou seu olhar distanciado para discorrer sobre o potencial de inovação da indústria química brasileira.
“O Brasil tem uma grande oportunidade, vocês têm as matérias-primas, indústrias e a academia. Creio que se a indústria química colaborar com a academia, com objetivo de avançar, haverá grandes resultados. A cooperação é importante pois nem o governo pode fazer isso sozinho”, assinala o alemão.
Fonte:
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