Comparando-se o déficit de irrigação brasileiro com o rendimento obtido em cultivos irrigados.
Comparando-se o déficit de irrigação brasileiro com o rendimento obtido em cultivos irrigados, conclui-se que esse modelo de agricultura pode gerar um efeito multiplicador imenso em diversas cadeias produtivas.
É o que afirma Antonio Bliska Júnior, vice-presidente do Cobapla, ao justificar que a produtividade média das áreas irrigadas supera em pelo menos 2,7 vezes a obtida pela agricultura tradicional de sequeiro.
O gap entre o tradicional e o moderno, em termos de cultivo, torna-se evidente, acrescenta ele, quando se constata que dos mais de 60 milhões de hectares cultivados no Brasil, no período de 2018-2019, só 6,3 milhões de hectares eram irrigados, ou seja, apenas 10,5% do total.
A partir desse descompasso e “levando-se em conta algumas estimativas conservadoras, o Brasil pode atingir 30 milhões de hectares de área irrigada, repercutindo positivamente na economia como um todo”, reitera o especialista, que também é professor da Faculdade de Agronegócios de Holambra (Faagroh).
“Somos um dos poucos países no mundo com perspectiva de crescimento significativo da área irrigada” acrescenta o também professor Rubens Duarte Coelho, da Esalq-USP, lembrando que, na realidade, o Brasil dispõe hoje de 8,5 milhões de hectares irrigados e um potencial de 76 milhões de hectares para irrigação futura.
Ele explica que a diferença entre os 8,5 milhões atuais e os 6,3 milhões anteriores leva em consideração as áreas de aplicação de vinhaça, na cultura da cana-de-açúcar, que é feita com sistemas de irrigação do tipo autopropelido com carretel e canhão.
“Só para se ter uma ideia, o total de área irrigada atualmente nos Estados Unidos é de 28 milhões de hectares, sem possibilidade de expansão significativa, pois não existem mais recursos hídricos disponíveis em território norte-americano para esta finalidade”, informa.
As boas perspectivas que o país tem pela frente reforçadas inclusive pelo que já foi feito, levam Coelho a se contrapor ao exemplo de Israel, tido como benchmarking em eficiência de irrigação.
Ele justifica que a área total irrigada em território israelense é muito pequena, em torno de 220 mil hectares.
“O Brasil instala atualmente, por ano, cerca de 235 mil hectares irrigados. Isso significa que instalamos, por ano, em território nacional, mais do que a área total irrigada em Israel acumulada ao longo de vários anos”, afirma o professor e coautor do livro recém-lançado pela Esalq, denominado “Diferentes abordagens sobre irrigação no Brasil: técnica e cultura”.
No campo prático, o diretor de marketing da Netafim Mercosul, Carlos Sanches, concorda com o otimismo manifestado pelos acadêmicos Bliska e Coelho.
Dado o estoque de áreas de sequeiro, Sanches prevê que o Brasil tem potencial para irrigar entre 400 e 500 mil hectares novos a cada ano, rompendo fronteiras e agregando áreas ainda a serem exploradas pela agricultura comercial.
Concretizada essa superação, espera-se que as ilhas do atraso sejam ocupadas nos próximos anos, expandindo-se horizontalmente a modernidade na agricultura brasileira.
Paralelamente, “a irrigação abre uma fronteira vertical, possibilitando o crescimento em áreas já ocupadas, aumentando significativamente sua produção”, avalia Sanches.
Já este ano, ele espera que a expansão da irrigação tecnificada no Brasil chegue a 300 mil hectares, atingindo seu maior crescimento histórico.
“Cada vez mais o mercado da agricultura busca melhorar seus resultados por meio da irrigação”, o que é positivo, segundo a coordenadora de marketing de produtos da Tigre, Grasiela Devigili Meireles Moura.
Trata-se, segundo ela, de uma técnica que aumenta a produtividade por hectare, sem que haja necessariamente a ampliação de áreas plantadas, permitindo o uso racional da água.
Mas para que esse crescimento seja sustentável, ela defende a implantação tanto de irrigação como de modelos avançados de drenagem, com inovações tecnológicas diferenciadas, para operar os sistemas de maneira eficiente e racional.
Eduardo Bertela, gerente de marketing da Kanaflex Indústria de Plásticos concorda com a executiva da Tigre. Em sua opinião, a irrigação consome muita água e a sua racionalização deve acirrar a pauta de discussões ambientais e de disponibilidade.
Pensando sobre a economia dos recursos hídricos e a eficácia operacional do sistema, o gerente comercial da Cimflex, Jonathan Santos, aconselha o produtor a procurar sempre um fornecedor especializado e capaz de montar um projeto de acordo com suas necessidades.
Ele justifica que os métodos de irrigação podem variar de acordo com o que será produzido. Em certos locais, observa Bertela, da Kanflex, recomenda-se analisar tipo de solo, topografia e salinidade, pois nesses casos, às vezes, torna-se necessária a implantação do sistema de irrigação também junto com o de drenagem do subsolo.
De fato, equipamentos mais adequados são capazes de otimizar tanto a irrigação quanto o consumo de água, diz Rogério Barbosa gerente-adjunto de vendas da Equipesca.
Por exemplo, utilizando-se gotejamento ou aspersores, as demandas hídricas das plantas podem ser perfeitamente atendidas, com ganhos de eficiência e evitando desperdício, segundo ele.
Tecnicamente, a tecnologia de gotejamento baseia-se na aplicação de água em baixas vazões e altas frequências. Além disso, possui menores perdas de água por vento, percolação e evaporação, complementa Sanches, da Netafim Mercosul.
Quando utilizados em sistemas de irrigação por aspersão convencional, por exemplo, os aspersores de impacto são facilmente ajustáveis para atender diferentes vazões, visando irrigar diversos tipos de cultivos e manejos, explica Grasiela Devigili Meireles Moura, coordenadora de marketing de produtos da Tigre.
Já os aspersores fixos, são destinados principalmente para irrigação de gramados, viveiros, jardins, canteiros e estufas. “Os sistemas que mais evoluem são os de gotejamento e pivô central, mas nossos produtos acabam suprindo ambos os sistemas na adução e distribuição de água”, afirma a executiva da Tigre.
Em termos de tendência, diz ele, o uso da fertirrigação, com a agricultura de precisão e a preocupação cada vez maior com as questões ambientais deverão nortear as ações da agricultura irrigada, futuramente.
A intenção, segundo ele, é reduzir tanto o desperdício quanto o consumo de água, bem como o volume de fertilizantes devido ao impacto do custo desses insumos na produção.
Para Coelho, da Esalq, o futuro dessa indústria estará baseado em três áreas distintas do planeta: Brasil, China e Índia.
Não por acaso, o Brasil tornou-se um dos principais mercados de irrigação no mundo, tendo abrigado, nos últimos anos, representantes de todas as empresas internacionais que fabricam sistemas para esse segmento, complementa o professor.
Fonte:
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