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Tratamento e controle do Necrochorume requer atenção dos químicos

O Conselho Regional de Química da 4ª Região (CRQ IV), com sede em São Paulo, trouxe para discussão, durante live realizada no dia 3 de março, o Necrochorume.

No mês da Mulher, o Conselho Federal de Química (CFQ) resgatará, nesta série de textos em dois episódios, a trajetória de uma personagem decisiva de sua História: a vida e a obra de Hebe Helena Labarthe Martelli (1919-2013), a primeira e única mulher a, até o momento, ocupar a presidência do CFQ. Dotada de uma mente brilhante, competência notória, ousadia e pioneirismo em um ambiente nem sempre amigável para as mulheres, Hebe Helena Martelli marcou uma época na Ciência e contribuiu decisivamente para a consolidação da Química e de seus profissionais no panteão das atividades mais respeitadas pelo Brasil. Boa leitura.

 

Era no nono andar do edifício de número 50 da Avenida Nilo Peçanha, no centro do Rio de Janeiro, que a doutora Hebe Helena Labarthe Martelli despachava quase todos os dias como presidente do Conselho Federal de Química. A sede do CFQ, própria, não ocupava o andar inteiro do prédio, mas era bastante ampla. Mesas emadeiradas, máquinas de escrever barulhentas e cinzeiros atopetados de filtros de cigarros usados (no Rio, se diz guimbas) esfumaçam o ambiente típico dos escritórios das décadas de 60, 7o ou 80. 

Hebe nunca chegou ao CFQ de motorista particular – sempre preferiu ela mesma dirigir. “Pilotava” desde a Zona Sul (morou nos bairros de Copacabana, Ipanema e Gávea ao longo da vida), passando pelo escritório do Conselho no centro do Rio, e se dirigia à Ilha do Fundão, onde atuava como professora nas instalações da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O deslocamento diário, quase 20 km de ida e 20 km de volta, era uma “lonjura” na época. Entre as várias habilidades de Hebe, não estava a condução de veículos automotores.  

“Mamãe do nada apareceu com um carro em casa. Tinha comprado um DKW (carro que se notabilizava por abrir a porta da frente no sentido contrário). O carro era rosa antigo, com capota azul escura. O caso é que ela tentou tirar a carteira por umas quatro vezes e foi reprovada. Meu pai ficou cheio disso e levou ela para fazer o teste em Niterói (capital do antigo Estado do Rio de Janeiro) e só assim ela conseguiu”, recorda a filha de Hebe, Regina Martelli.

Sem dar ouvidos a piadas de que “deveriam trocar os postes de Copacabana por outros, feitos de borracha”, lá ía Hebe ao CFQ manejando seu carro. A parte da cidade em que ficava a sede do Conselho é, até hoje, um centro nevrálgico do Rio de Janeiro: o edifício tinha calçada entre o Largo da Carioca, praça de maior afluxo popular, repleta de vendedores e artistas de rua que disputam espaço, formando rodas de gente ao pé do Convento de Santo Antônio, e o então conhecido centro financeiro do Rio, a avenida Rio Branco – uma larga avenida, muito movimentada, inspirada na reurbanização de Paris e até hoje repleta de bancos, joalherias e prédios de escritórios já não tão charmosos.

A política por gosto e a amizade com Carlos Lacerda

Esse ponto icônico do Rio assistiu à ascensão de Hebe Martelli à presidência do CFQ em 1979. Prestigiada no meio acadêmico, reverenciada entre seus pares da Química, não parece ter havido dificuldades para que ela fosse apontada ao cargo – à época, o Ministério do Trabalho definia o comando do CFQ a partir de uma lista tríplice enviada pelo próprio Conselho.

Quem bem conhecia Hebe sabia de uma de suas facetas mais contidas: o gosto pela política. Era militante apaixonada de suas ideias e partidos, mas sempre dentro de um espírito público inamovível. Desde jovem, se deixava envolver pela retórica cortante do ex-deputado e ex-governador da Guanabara Carlos Lacerda, de quem seria amiga ao longo da vida.

“Minha mãe era muito politiqueira…”, ri Regina. 

Ela afirma que, por certo tempo, referiam-se a Hebe como “viúva do Lacerda”. Era um termo, desabonador, para descrever mulheres de classe média que apoiavam o líder controverso da época. A política, segundo Regina, nada trouxe de positivo para a mãe do ponto de vista pessoal:

“Ela era combativa, talvez isso a tenha prejudicado algumas vezes no sentido profissional. Acho que ela tinha qualidade para ter chegado a ministra da Educação, ou da Ciência e Tecnologia”.

Estabelecida na presidência do CFQ, Hebe estava decidida a deixar uma marca. Era uma mulher muito bonita e imponente, loura e de sorriso largo. Facilmente notada em qualquer ambiente. Eventos de que ela participava, desde sempre ganhavam “perfil solene”. Era reconhecida pelo bom gosto ao vestir e pela maquiagem esmerada, em harmonia com as tendências da época. 

“Não diria que ela era vaidosa, afinal isso pode até ser visto como pejorativo”, relembra o conselheiro federal de Química Gil Anderi da Silva. Anderi ocupara um assento no plenário do CFQ entre 1976 e 1980, acompanhando de perto um trecho da primeira gestão de Hebe.

O conselheiro federal prossegue:

“O que a doutora Hebe possuía era um senso aprofundado da relevância do cargo que ocupava”.

E assim era feito. Hebe se sentia prestigiada por presidir o CFQ em um momento histórico. Ao final dos anos 80, a Química era um dos setores mais fulgurantes no crescimento industrial brasileiro. Havia demanda inesgotável por profissionais: o setor fervia desde a criação do pólo petroquímico do grande ABC, em 1972. A ela, seguiam-se ainda outras, como a dos pólos de Camaçari (1978) e Triunfo (1982). 

Solenidades, imposição e Química ao sabor do Brasil que cresce

A liturgia era uma determinação e Hebe fez do CFQ algo a sua imagem e elegância. Sem jamais cair na armadilha da frivolidade, ela equipou o conselho de peso institucional suficiente para conduzi-lo a patamares mais altos. Quem via o glamour dos eventos memoráveis ou a qualidade da prataria e dos cristais dos jantares, poderia ignorar que, sob Hebe, o CFQ ficara mais conhecido de políticos e autoridades. Assim, as decisões políticas de sua gestão deixaram evidenciado um projeto grandiloquente para o CFQ e para a Química no Brasil. Nada que fosse extravagante ou megalômano mas, ao mesmo tempo, condizente com o pensamento nacional-desenvolvimentista que embalava os anos 70.

Na presidência de Hebe, o CFQ daria início à aceleração na criação de Conselhos Regionais de Química (CRQs). Ao longo de seis anos, ela se envolveu diretamente no nascimento de três deles: o CRQ VIII (Sergipe); o CRQ IX (Paraná) e o CRQ X (Ceará). O processo teria seguimento na gestão seguinte, quando os outros 11 CRQs que hoje existem seriam criados. Não se pode negar, porém, que o norte estratégico de aproximar o Sistema CFQ/CRQs dos químicos e da sociedade fora definido por ela.

Em se tratando de estilo, Hebe é rememorada como interlocutora sensata, porém direta. A articulação para a criação de um novo CRQ nem sempre é simples. Em analogia simples, é como a criação de um novo Estado ou Município. Implica em renúncia de poder e de recursos de parte do CRQ de origem e, ao mesmo tempo, demanda organização especial de parte do CRQ que nasce. Cláudio Sampaio Couto, presidente do CRQ X, relembra o apoio de Hebe quando da criação daquela nova autarquia, em 1983.

“Ela era uma pessoa muito alegre, muito boa. Atendia muito bem à gente. Foi uma administração democrática, guardadas as proporções, semelhante a que se tem hoj

O Conselho Regional de Química da 4ª Região (CRQ IV), com sede em São Paulo, trouxe para discussão, durante live realizada no dia 3 de março, o Necrochorume, ou seja, a toxidade das substâncias liberadas na decomposição dos cadáveres. Diante da gravidade e dos riscos que podem trazer ao meio ambiente, especialmente aos lençóis aquíferos e também à saúde pública por meio dos cemitérios, o assunto está na pauta dos profissionais da Química.

De acordo com Dilcelli Soares Moura, mediadora do debate, “o tema ganhou notoriedade nos dois últimos anos, com várias aparições na mídia envolvendo os cemitérios, que exigem um gerenciamento adequado devido ao risco de contaminação do solo, uma vez que muitos deles operam em condições irregulares, como mostram estudos recentes”, afirmou.

Segundo um dos palestrantes, o professor Dr. Francisco Carlos da Silva, o Necrochorume é um líquido proveniente da putrefação do cadáver designado na medicina legal de liquame funerário ou putrelagem. A composição de tal líquido é de 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de substâncias orgânicas (putrecina e cadaverina), altamente tóxicas, ressaltou. 

Em discussão, foi lembrada a importância das questões geoambientais, que devem ser consideradas nesse contexto.  O alcance do Necrochorume para o aquífero freático ocorre também em função do tipo de solo, e isso acontece mais facilmente em área arenosas. Por outro lado, o solo argiloso retém mais o líquido, em compensação pode conservar os corpos por mais tempo. Silva é autor de um estudo de caso para avaliar metais potencialmente tóxicos em zona não saturada no cemitério Nossa Senhora Aparecida em Piedade (SP). 

Durante a pesquisa, as técnicas geofísicas utilizadas mostraram-se eficientes na localização de anomalias metálicas no solo.  As análises textural, granumolétrica e de permeabilidade demonstraram a existência de solo não propício para sepultamento.  As análises químicas, apontadas pela geofísica, demonstraram que realmente há um incremento desses metais, principalmente nas profundidades abaixo das sepulturas (1,5 a 3 metros).  A pesquisa revelou, ainda, a existência de solo não propício para sepultamento no local, com risco de contaminação.  

Por se tratar de uma matriz complexa e tóxica, os procedimentos mais conhecidos para o tratamento do Necrochorume são pastilhas bacterianas, tubos coletores, manta absorvente, fitorremedicação, bombeamento, tratamento e processos biológicos. Porém, a maior eficácia ao tratamento do Necrochorume, vêm dos processos químicos, alertou Francisco. 

A Live do CRQ IV também contou com a participação de Juliano Andrade, químico por formação e diretor executivo da empresa Oxi Ambiental, que atua na pesquisa e controle de áreas contaminadas, inclusive por Necrochorume.

Andrade chamou a atenção para o aumento da população mundial, por estar atrelado à demanda e consumo de produtos, escassez de recursos naturais, produção industrial, geração de resíduos e o crescimento de áreas contaminadas.

Para o profissional “no Brasil, existem vários cemitérios centenários com problemas que ele considera extremamente crônicos por contaminação de Necrochorume”. Segundo ele, ”75% das áreas desses cemitérios possuem contaminação de alta complexidade procedentes do contato com o líquido oriundo de cadáveres”. 

No entanto, de acordo com Juliano Andrade, mesmo com os problemas, é necessário também visualizar os avanços de tratamento químico do Necrochorume, entre eles, por exemplo, a remoção total de (em menos de 30 minutos): Odor; Bactérias heterotróficas; Clostridium perfringens; Coliformes totais;  Coliforme termotolerantes; Remoção de mais de 70% da carga orgânica total; Remoção de 55% do nitrogênio amoniacal; Redução superior a 95% dos metais pesados: chumbo, arsênio e zinco.

O debate do Necrochorume x Meio Ambiente foi uma iniciativa da Comissão Técnica de Meio Ambiente do CRQ IV.  Assista à Live em: https://www.youtube.com/watch?v=8yFfZaRAJqM

Fonte: http://cfq.org.br/noticia/tratamento-e-controle-do-necrochorume-requer-atencao-redobrada-dos-profissionais-da-quimica/

Fonte:

Conselho Regional de Química 2ª Região

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