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Com plateia lotada, SBQ traz estratégias de comunicação em busca da igualdade de gêneros

Discutir a presença das mulheres na Ciência, mas, dessa vez, não apenas sob a ótica de estarem presentes.

Discutir a presença das mulheres na Ciência, mas, dessa vez, não apenas sob a ótica de estarem presentes, mas na percepção da necessidade de que sejam vistas e conhecidas. Essa foi a premissa que originou o simpósio “”Por que mulheres cientistas devem se importar com visibilidade nas mídias?”, realizado no dia 2 de junho, durante a 45ª Reunião Anual da SBQ.

Na abertura, a vice-presidente da SBQ, Rossimiriam P. Freitas, lembrou que em 45 anos de Sociedade, a partir do próximo mandato, a entidade terá uma mulher na presidência e obteve paridade de gênero, aliás, a eleição da entidade definiu a sucessora da nova presidente, sendo esta, também, mulher.

A primeira palestra sobre o tema foi conduzida pela jornalista Raíssa França que, visando ampliar a visibilidade e presença das mulheres em diversos espaços de mídia, expôs alguns motivos para incutir a ideia entre as participantes. De acordo com ela, a representatividade feminina não está restrita à Ciência, mas em todos os lugares, especialmente pela carga de trabalho desempenhada pelas mulheres que, além do trabalho externo, ainda acumulam jornadas referentes à maternidade.

Outro ponto ressaltado por Raíssa é o fato de que, na maior parte das vezes, a fonte para determinado assunto geralmente é masculina. Como alternativa para mudar este cenário, a jornalista sugere o investimento em assessoria de imprensa, por exemplo. “”Invistam na comunicação, façam essa ponte com a imprensa para que o trabalho de vocês seja divulgado e vocês estejam cada vez mais nos espaços de comunicação”, completou.

A sequência do simpósio ficou com Juliana Fedoce, doutora em Química pela UFMG com pós-doutorado realizado no MIT. É Professora Associada II no Instituto de Física e Química da Universidade Federal de Itajubá – UNIFEI, onde coordena o laboratório de química computacional orientando discentes em todos os níveis junto ao PPG Multicêntrico em Química de Minas Gerais. Idealizadora e atual presidente do Instituto Sua Ciência, entusiasta e aprendiz de muitas coisas, principalmente de comunicação pública da ciência e causas envolvendo mulheres na ciência.

Para dividir o espaço de fala, Glaucia Gonzaga, com licenciatura em Química, mestrado em Ciências Naturais subárea Química e Física do Meio Ambiente (2009, UENF), doutorado em Educação em Ciências (2021, UFRGS). Atualmente é Professora Adjunta III da Universidade Federal Fluminense.

As profissionais da Química e pesquisadoras falaram sobre como a diversidade é essencial para a criatividade, a inovação e a competitividade de organizações e grupos de trabalho. No entanto, ainda há um longo caminho na igualdade de gênero, especialmente na Ciência. Um dado referenciado pelas palestrantes foi a composição da Academia Brasileira de Ciências, cuja maioria dos associados é composta por homens. Além disso, de acordo com elas, a Ciência é uma excelente representação do efeito tesoura, no qual mulheres são maioria em estágios iniciais de carreira, enquanto nos cargos de maior prestígio e/ou remuneração a ocupação é majoritariamente masculina.

Juliana reiterou uma expressão bastante comum: “Quem não é vista, não é lembrada” e ainda completou sua fala manifestando estranheza por estar em 2022 ainda falando sobre igualdade de gênero, mesmo que o tema seja imprescindível.

Dados referentes ao tempo de utilização das redes sociais, crescimento e perfis de cada rede social foram abordados pelas palestrantes. Gláucia, por sua vez, lembrou que neste novo mundo digital vivemos a era das narrativas: “Estamos na era de disputa de narrativas e precisamos ter o controle de como teremos a nossa história narrada”, completou.

Segundo a pesquisadora, em meio à disputa de narrativa, pode ser construído um discurso conjunto que permita dar destaque para todas as mulheres.

Além do protagonismo e representatividade da mulher na Ciência há, também, as mulheres negras na Ciência, um recorte ainda mais complexo, segundo apontou a Doutora e Mestre em Ciências/Química e professora coordenadora do Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão da Universidade Federal do Goiás, Anna Benite.

Em sua fala Anna tentou desmistificar um pouco do que é regularmente ensinado há gerações, quando comumente são utilizados protagonistas homens e brancos sobre os grandes feitos da humanidade. Para ela é necessário ampliar e aprofundar conhecimentos, saindo, assim, do corriqueiro.

“Onde estão as mulheres negras no topo da evolução?”, questionou a palestrante, na ocasião, em referência à escala da evolução humana, tão presentes nos livros escolares, que sempre trazem a figura do macaco transmutando em um homem branco.

Segundo a professora da UFG, as mulheres têm se titulado mais do que os homens, no entanto, ainda não ocupam lugares entre a maioria dos reitores ou das autorias dos artigos publicados.

Entre os trabalhos desenvolvidos por Anna e que tentam fazer a ponte entre a história e Química é possível citar a metodologia adotada para o ensino de simetria molecular. “A modernidade instaura binariedades. Ou você é selvagem ou moderno, ou você é mulher ou você é homem, ou você é negro ou branco. Mas a gente é mais do que isso. Somos mulheres químicas…nós somos muitas, e a gente precisa se enunciar. Então, é isso o que a gente tem feito, temos ensinado simetria molecular, através de uma técnica de bordado que se chama barafunda, ela (técnica) esteve presente e ainda está presente nas religiões de matriz africana do nosso país, esteve presente na organização de mulheres quituteiras, como vocês conhecem na literatura, na compra de alforrias e na organização das mulheres negras no nosso país. Então, temos feito isso dentro do Instituto de Química da UFG, na escola de educação básica, esse é um exemplo do que desenvolvemos..”, acrescentou.

O simpósio ainda concedeu espaço de fala aos participantes, levando a plateia a agradecer pelo momento, narrar episódios vivenciados, e discorrer sobre projetos de suas áreas destinados a reconhecer e lutar por esse papel na Ciência.

A primeira presidente da SBQ, Vanderlan da Silva Bonzani, aproveitou a oportunidade para registrar sua manifestação: “Nós somos um país colonizado e na nossa cultura avançamos muito economicamente, socialmente. Mas a nossa cultura ainda tem muitas mazelas. Como nós podemos, ao longo de tantos anos, discutir um tema tão difícil que é a exclusão de mulheres, não só negras, de mulheres em todos os aspectos, principalmente na Ciência. Atualmente somos 30% da ciência mundial. E temos muitas mulheres que podem estar incluídas. Na minha concepção nós precisamos de homens e mulheres unidos, trabalhando, de mãos dadas, para que nós possamos ter um futuro melhor para as próximas gerações”, finalizou.

Também estiveram na coordenação do simpósio Elisa Orth e Carolina Horta Andrade.

Prêmio “Mulheres Brasileiras na Química”

Após o simpósio, a SBA e a ACS – American Chemical Society realizaram entrega do Prêmio ACS-SBQ “Mulheres Brasileiras na Química” (ACS-SBQ Brazilian Women in Chemistry Award), edição de 2022, o qual tem patrocínio do CAS, uma divisão da ACS, e da revista Chemical & Engineering News (C&EN).

O prêmio de “Liderança na academia” foi destinado à Ohara Augusto, professora titular do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, em reconhecimento ao seu “percurso consolidado no meio acadêmico, tendo feito uma contribuição importante, com um impacto global e social, para a pesquisa científica em Química ou ciências relacionadas”. Em especial, a homenageada tem passagem marcante por suas importantes contribuições para o entendimento da bioquímica de oxidantes e radicais livres.

A professora adjunta na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Goiás, Carolina Horta Andrade, recebeu o prêmio de “Líder emergente na Química” em reconhecimento aos “feitos de uma notável jovem cientista na Química e Ciências relacionadas”. O trabalho da profissional está focado na aplicação de tecnologias computacionais e inteligência artificial para a descoberta de candidatos a novos fármacos para doenças negligenciadas e vírus emergentes.

O prêmio de “Liderança na indústria” foi concedido à fundadora e diretora de negócios da empresa Lychnoflora, Thais Guaratini, em reconhecimento a “pesquisas e inovações criativas que levaram a descobertas que contribuíram para o sucesso comercial, e consequentemente, para o benefício da sociedade”. A Lychnoflora é uma spin-off da Universidade de São Paulo (campus de Ribeirão Preto) que oferece serviços a organizações em setores tão diversos como os de fármacos, cosméticos, alimentos e outros.

Fonte: http://cfq.org.br/noticia/com-plateia-lotada-sbq-traz-simposio-com-estrategias-de-comunicacao-em-busca-da-igualdade-de-generos-na-ciencia/

Fonte:

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