Dezembro é o mês oficial das confraternizações. Com o fim de ano cada vez mais próximo e a pandemia um pouco mais controlada, as festas estão a todo vapor.
Muitas vezes, bares e restaurantes são os pontos de encontro para essas reuniões, mas você sabe o que realmente está comendo ou bebendo nesses lugares? Para as mulheres, há ainda um medo muito comum: o de ter a bebida “batizada”. Pensando nisso, quatro estudantes do ensino médio do Sesi de Gravataí (RS) desenvolveram um copo capaz de identificar a presença de um reagente químico em bebidas, conhecido como ácido gama-hidroxibutírico (GHB), o popular “Boa noite Cinderela”.
A pesquisa foi pensada pelas estudantes Natally Souza, 16 anos, Giovanna Freitas, Giovanna Moraes e Nicolli Marques, de 17, com auxílio do professor de Química Rafael Abruzzi. O estudo ainda está em fase de testes e as jovens acreditam que podem concluí-lo até o fim de 2023. A ideia, segundo o grupo, surgiu em 2021, durante a elaboração de um trabalho em outra disciplina.
“Esse trabalho falava bastante sobre economia e empreendedorismo, tínhamos que criar um produto ou uma empresa inovadora. Então, a gente decidiu criar o copo detector de ácido gama. Percebemos que, na época, tinha um grande índice de droga sendo utilizado nas festas para deixar as vítimas inconscientes e vulneráveis a atos de abusos, sequestros e roubos. Por isso, focamos em algo que pudesse ajudar na segurança dessas pessoas, deixando-as mais confortáveis em lugares públicos”, contaram as meninas.
O copo pensado por Natally, Nicolli, Giovanna Freitas e Giovanna Moraes é de polipropileno, considerado um plástico mais sustentável. “O custo benefício dele é melhor do que os outros e traz sustentabilidade para o ambiente”, garantiram. A proposta é que quando o GHB entrar em contato com o copo, o recipiente mudaria de cor. “A vítima vai ficar alerta que tem algo de errado ali, é o que pretendemos”, explicaram.
O professor Rafael Abruzzi comentou que ainda há alguns desafios a serem vencidos, mas que está confiante no trabalho desenvolvido pelas jovens. “O desafio agora é testar esse reagente na própria droga para ver a alteração de cor e depois também incorporá-lo no material plástico polimérico para ver se, ao entrar em contato com a droga, ele vai realmente trocar de cor. Além disso, esse reagente não pode ser tóxico porque poderia passar para bebida. As meninas estão avaliando outras possibilidades além do copo, que seria alguma coisa que fosse acoplada a ele, que facilitasse o manuseio de poder aplicar em qualquer copo e que pudesse reduzir esse custo de produção”, adiantou.
Na opinião de Wilson Botter, conselheiro do Conselho Federal de Química (CFQ), esse movimento iniciado pelas estudantes de Gravataí é “muito importante”. “A pesquisa desenvolvida por elas é relevante por trazer a possiblidade de termos objetos (copos, canudos, agitadores de bebidas) que identifiquem substâncias tóxicas e psicotrópicas que são adicionadas criminosamente em bebidas em bares e festas. Além disso, volta os olhares da sociedade, com a repercussão que teve, para o grave problema da violência que vivem as mulheres em nosso país.”
De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2022, entre 2012 e 2021, mais de 580 mil pessoas foram vítimas de estupro e estupro de vulnerável (menores de 14 anos) no Brasil. Só em 2021, foram registrados 66 mil boletins de ocorrência de casos – sem contar os subnotificados.
“Os números da violência contra as mulheres são alarmantes. Assim, medidas e ações que lancem os olhares sobre essa temática, e que ofereçam algum tipo de solução, são sempre bem-vindas. Para além dessas questões, mostra a importância do ensino da Química, com um viés social, que é o que realmente importa na formação de cidadãs e cidadãos”, acrescentou Botter.
O conselheiro do CFQ destacou, ainda, a participação de mulheres na Ciência. “Quase toda a produção intelectual é feita por homens. Assim, a presença de mulheres nas Ciências, e em especial na Química, é fundamental para a desconstrução de preconceitos seculares e o estabelecimento de uma sociedade mais justa”, frisou.
Fonte: https://cfq.org.br/noticia/estudo-desenvolvido-por-adolescentes-mostra-como-a-quimica-pode-salvar-vidas/
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